A delação
premiada anunciada em nota pelo Grupo Odebrecht pode ser o último prego no
caixão desse governo moribundo. A construtora está no centro das investigações
da Lava Jato. Há décadas irriga os gabinetes de Brasília com dinheiro sujo. E,
fazendo jus à sua origem germânica, era extremamente organizada. Mantinha,
inclusive, um departamento totalmente dedicado à corrupção, desmantelado nesta
terça (22) logo pela manhã. O zelo era tanto que seu principal executivo,
Marcelo Odebrecht, cuidava pessoalmente dos pagamentos. "Cabeça
Chata", "Galego", "Baixinho" e outros personagens
encontrados na lista dos corrompidos sabem que a casa caiu.
Quando
foi preso no fim do ano passado, Marcelo parecia indestrutível. Ainda era o
príncipe entre os príncipes. Bilionário, acreditava que sua passagem por
Curitiba seria rápida. A arrogância era tamanha que chegou a fazer uma analogia
estranha entre os valores que ensinava para sua filhas e os crimes cometidos
pela empresa: "Eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que aquela que
fez o fato”, afirmou, deixando evidente que era mais solidário com o malfeitor
do que com o delator. O tempo passou. A liberdade não veio. E Marcelo não
segurou o tranco.
A apreensão
feita hoje dos arquivos da corrupção destruiu de vez qualquer desejo de
permanecer calado. Marcelo já tinha sido condenado a 19 anos e quatro meses em
um processo da Lava Jato. E sua pena final poderia ir muito além.
Marcelo
estava sendo pressionado pelo pai Emílio, que não queria ver a empresa
arrastada para o abismo. Preferiu entregar os anéis e tentar salvar o que ainda
resta das mãos. Ainda não se sabe se os promotores vão aceitar a proposta do
Grupo Odebrecht, mas deve ter sido uma noite longa em Brasília.
E não é
só o PT que deve estar preocupado. Marcelo e seu pai conhecem profundamente os
subterrâneos da política brasileira. Eles sempre quiseram ganhar dinheiro. E
ajudavam financeiramente quase todos os partidos. A cor do gato nunca importou,
desde que soubesse caçar ratos.
O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, sempre abriu as portas do
seu gabinete para Emílio Odebrecht entrar. E com enorme desenvoltura. Bem que
os promotores e policiais da Operação Lava Jato poderiam perguntar as razões de
uma amizade tão cimentada. O País iria agradecer.
Odair Braz Junior/R7