Tem uma música dos Titãs que gosto muito que
diz assim “Quem espera que a vida, seja feita de ilusão, pode até ficar maluco,
ou sofrer na solidão; é preciso ter cuidado, pra mais tarde não sofrer, é
preciso saber viver”. Sempre penso nisso e acrescento: faz parte do saber
viver, saber envelhecer.
As
pessoas mais velhas atestam que envelhecer é bastante complicado. Eu acho que é
mesmo, mas também penso que, se não há muitas vantagens, as que se tem, podem
ser infinitamente boas. Primeiro, é preciso considerar que a outra opção a
envelhecer é morrer jovem. Isso, por si só, já é um enorme argumento.
Depois,
envelhecer te dá uma certa autonomia - não digo financeira, que essa é uma das
complicações da idade, já que tudo fica mais caro (remédios, planos de saúde,
dietas), e as pessoas, com poucas exceções e por razões diferentes, têm seus
recursos diminuídos. Mas a autonomia de que falo é aquela de não ter mais que
se explicar.
Na
velhice você pode querer um notebook de última geração e se alguém te perguntar
para que, dizendo que você não trabalha mais, sai pouco e isso não lhe teria
'real' utilidade, você pode responder apenas 'porque eu quero'. Oras bolas! Quem
foi que instituiu a 'real' utilidade das coisas? Na velhice, salvo se sua saúde
estiver muito debilitada, você pode morar onde quer. Na juventude, primeiro
você mora onde pode; depois, com filhos e afins, onde precisa. Você pode morar
numa casa grande, numa casa antiga ou num pequeno apartamento.
Na
velhice, você pode andar meio desleixado, desatento, ser extravagante, ou andar
impecavelmente arrumado. Você pode dormir até tarde, sentar-se na varanda sem
pressa ou esquecer-se de alguns afazeres. E daí? Na velhice, não importam mais
os erros cometidos, os julgamentos, os questionamentos. Não é preciso mais
explicar, nem entender. Os jovens é que têm que compreender que os velhinhos
querem poder ficar onde eles querem, onde precisam, onde sentem-se bem, com os
objetos, pessoas, desejos que eles ainda podem escolher.
Fernando Carvalho