A fina garoa paulistana que molhava a Praça Roosevelt na noite
de quinta-feira não foi suficiente para afastar os quase 15 mil manifestantes
que cercavam o carro de som para ouvir o líder dos movimentos que lutam por
moradia. Andando de um lado para outro, Guilherme Boulos distribuía ordens aos
militantes, chamava a atenção da polícia para um manifestante que passava mal
e, ao assumir o microfone para fechar o evento, pediu às mulheres que fechassem
os ouvidos. “Intervenção militar é o c... Será o poder do povo pelas reformas populares”,
gritou com eloquência o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), numa clara resposta aos grupos de direita que, no outro polo
ideológico, bradam também em manifestações de rua pelo impeachment da
presidente reeleita Dilma Rousseff e por um novo golpe militar. “Aqui somos contra a direita. Não mexam nos direitos do povo. Se
cortar no social, 2015 vai ser um ano vermelho”, disse Boulos, advertindo que
se tiver que fazer ajustes, o governo que escolha outras áreas. “Vão cortar nos
bancos!”, sugeriu, dirigindo-se a classe rival, que ele chamou de “burguesada
dos Jardins”. Todos esses grupos enxergam na efervescência provocada pelo
escândalo da Petrobras a oportunidade histórica que Dilma pode aproveitar para
mexer nas estruturas do país ou, se não fizer o que as ruas estão pedindo,
correr o risco de ser afogada na inevitável tsunami que dormita nas placas
tectônicas da Petrobras. Na manifestação de sábado, na Avenida Paulista, o
cantor Lobão deu meia volta ao se deparar com um carro de som de onde
manifestantes gritavam pelo impeachment e exibiam faixas com dizes “SOS Forças
Armadas”. Entre os cerca de dez mil manifestantes que saíram às ruas, havia
gente francamente favorável à pregação do retorno do militarismo e outros que,
pelo menos por enquanto, só falam em rigor nas manifestações. É o caso do
senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que estava na manifestação, e deu aos
jornalistas uma declaração dúbia sobre o impeachment. “Não é o caso no
momento”, disse ele. “Impeachment é questão a ser vista quando tiver provas
concretas, provas jurídicas”, acrescentou.
(IG)