23 novembro 2014

Esquerda e direita já ensaiam nas ruas confrontos de 2015

A fina garoa paulistana que molhava a Praça Roosevelt na noite de quinta-feira não foi suficiente para afastar os quase 15 mil manifestantes que cercavam o carro de som para ouvir o líder dos movimentos que lutam por moradia. Andando de um lado para outro, Guilherme Boulos distribuía ordens aos militantes, chamava a atenção da polícia para um manifestante que passava mal e, ao assumir o microfone para fechar o evento, pediu às mulheres que fechassem os ouvidos. “Intervenção militar é o c... Será o poder do povo pelas reformas populares”, gritou com eloquência o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), numa clara resposta aos grupos de direita que, no outro polo ideológico, bradam também em manifestações de rua pelo impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff e por um novo golpe militar. “Aqui somos contra a direita. Não mexam nos direitos do povo. Se cortar no social, 2015 vai ser um ano vermelho”, disse Boulos, advertindo que se tiver que fazer ajustes, o governo que escolha outras áreas. “Vão cortar nos bancos!”, sugeriu, dirigindo-se a classe rival, que ele chamou de “burguesada dos Jardins”. Todos esses grupos enxergam na efervescência provocada pelo escândalo da Petrobras a oportunidade histórica que Dilma pode aproveitar para mexer nas estruturas do país ou, se não fizer o que as ruas estão pedindo, correr o risco de ser afogada na inevitável tsunami que dormita nas placas tectônicas da Petrobras. Na manifestação de sábado, na Avenida Paulista, o cantor Lobão deu meia volta ao se deparar com um carro de som de onde manifestantes gritavam pelo impeachment e exibiam faixas com dizes “SOS Forças Armadas”. Entre os cerca de dez mil manifestantes que saíram às ruas, havia gente francamente favorável à pregação do retorno do militarismo e outros que, pelo menos por enquanto, só falam em rigor nas manifestações. É o caso do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que estava na manifestação, e deu aos jornalistas uma declaração dúbia sobre o impeachment. “Não é o caso no momento”, disse ele. “Impeachment é questão a ser vista quando tiver provas concretas, provas jurídicas”, acrescentou.
(IG)
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