22 abril 2025

Defesa da compaixão: Papa Francisco foi 'comunista' por lembrar que céu (e Terra) são para todos

Os que lamentam a morte do papa Francisco, nesta segunda-feira pós-Páscoa, são muitas vezes mais numerosos do que aqueles que a celebram – apesar de não podermos desprezar a quantidade de babacas no mundo. O ódio à defesa da compaixão por Jorge Mario Bergoglio comprovava que muitos cristãos são incapazes de entender as palavras que estão na fundação de sua própria fé. Isso lembra uma citação atribuída ao já falecido Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que lutou contra a ditadura e esteve sempre ao lado dos mais pobres: “Se falo dos famintos, todos me chamam de cristão, mas se falo das causas da fome, me chamam de comunista”. Em seu último discurso, a mensagem “Urbi et Orbi”, neste domingo, Francisco lembrou que “o mal não desapareceu da nossa história e permanecerá até ao fim”. Mas que o amor venceu o ódio, a verdade venceu a mentira e o perdão venceu a vingança. Só que o caminho passa por reconhecer no outro um igual e caminhar junto a ele. E isso é insuportável para um grupo de pessoas que não quer dividir o pão e a mesa, apenas ceder as migalhas que caem no chão. A palavra “comunismo” retirada de seu sentido original, de propriedade comum dos meios de produção e da ideologia por ela sustentada, se tornou no Brasil um simples comando para o linchamento digital, independentemente de quem esteja do outro lado. O objetivo é tirar a credibilidade e destruir, muitas vezes para servir de exemplo. E, consequentemente, esse processo tornou a palavra depositária do “mal”. E um grande mal é sempre temido e vira uma ameaça.


(Por Leonardo Sakamoto)

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