Os que lamentam a morte do papa Francisco, nesta
segunda-feira pós-Páscoa, são muitas vezes mais numerosos do que aqueles que a
celebram – apesar de não podermos desprezar a quantidade de babacas no mundo. O
ódio à defesa da compaixão por Jorge Mario Bergoglio comprovava que muitos
cristãos são incapazes de entender as palavras que estão na fundação de sua
própria fé. Isso lembra uma citação atribuída ao já falecido Hélder
Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que lutou contra a ditadura e esteve
sempre ao lado dos mais pobres: “Se falo dos famintos, todos me chamam de
cristão, mas se falo das causas da fome, me chamam de comunista”. Em seu último discurso, a mensagem “Urbi et Orbi”, neste
domingo, Francisco lembrou que “o mal não desapareceu da nossa história e
permanecerá até ao fim”. Mas que o amor venceu o ódio, a verdade venceu a
mentira e o perdão venceu a vingança. Só que o caminho passa por reconhecer no
outro um igual e caminhar junto a ele. E isso é insuportável para um grupo de
pessoas que não quer dividir o pão e a mesa, apenas ceder as migalhas que caem
no chão. A palavra “comunismo”
retirada de seu sentido original, de propriedade comum dos meios de produção e
da ideologia por ela sustentada, se tornou no Brasil um simples comando para o
linchamento digital, independentemente de quem esteja do outro lado. O objetivo
é tirar a credibilidade e destruir, muitas vezes para servir de
exemplo. E, consequentemente, esse processo tornou a palavra depositária
do “mal”. E um grande mal é sempre temido e vira uma ameaça.
(Por Leonardo Sakamoto)

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