“Se eu pisar nele, ele morde?”, indaga curioso o pequeno Rafael, 3 anos. A mãe, Graziela Reinolde, 37, responde que não. “Ele já era, deixa isso aí”, afirma, enquanto observa a carcaça seca do caranguejo que chama a atenção do filho. Ao redor, muita coisa também parece morta. Como o açude da pequena propriedade rural arrendada pela família, onde o chão de terra rachado agora abriga restos de peixes que há muito não têm onde nadar. Ou parte da plantação de laranjas de onde eles tiram seu sustento, mas cujas folhas desidratadas se fecham na tentativa de preservar a pouca umidade que ainda resta. Na zona rural de Estrela D’Oeste, no noroeste do Estado de São Paulo, não chove há meses. “É a pior seca que eu vi nos meus mais de 30 anos de vida no campo”, diz o patriarca Antônio Reinolde, 43, a terceira geração de sua família a se dedicar à terra.
A
propriedade alugada pelos Reinolde fica às margens da rodovia Euclides da Cunha,
que homenageia o jornalista e escritor autor de Os Sertões. Em sua
obra maior, ele elogia a determinação do sertanejo, e diz que “a seca não o apavora (...) é um
complemento à sua vida tormentosa”. Mas estas palavras não traduzem o desespero
vivido por quem depende da água para tirar seu sustento da terra. “Já pensei
muito em parar, aliás muita gente que eu conheço largou a roça. Um primo meu
foi ser caminhoneiro. Porque a gente é pobre e sofre muito nessa situação [de
seca]. Não sabe o que vai ganhar e nem quando, atualmente ficamos no zero a
zero todo final de mês”, diz Antônio, que trabalha na pequena propriedade
arrendada com a mulher, Graziela, e o filho mais velho, Daniel, 13. Os três
observaram, incrédulos, o açude secar pela primeira vez em décadas: dos
milhares de litros de água da chuva e do córrego, que chegava a transbordar na
estradinha de terra “complicando nossa passagem” restou uma pequena poça de
lama.
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