Todos
os dias são de luta para os herdeiros da diáspora africana, movimento
involuntário de povos escravizados de nações keto, jeje, angola, nagô, entre
outras, em três séculos e meio de enriquecimento dos colonizadores, tendo como
mercadoria o corpo de epiderme escura. Hoje, embora não seja feriado em
Salvador, cidade mais preta fora da África, fixou-se o Dia da Consciência Negra
no Brasil, dedicado à memória dos heróis dos quilombos, núcleos habitacionais e
militares de resistência, entre os quais, o mais famoso, o de Palmares,
Alagoas, chefiado por Zumbi.
Doar sentido à expressão consciência negra é acusar os maltratos
cometidos por corsários, de navios errantes, além dos representantes de reinos
organizados, igualmente todos piratas, estes últimos ainda mais pérfidos, pela
pretensão a serem legitimados por seus brasões. Sob as águas do Atlântico, nas
rotas entre Luanda, porto de Angola, para Recife, Salvador e Rio, podem-se imaginar
restos de passageiros da agonia atirados ao mar, por doença ou esqualidez, ao
perderem valor econômico.
Não seria dizer terem sorte, ao desembarcar, os sobreviventes,
após saírem dos porões de navios nomeados negreiros, em convívio com ratos,
estas pessoas arrancadas de seus lares, muitas delas tendo conhecimento de
ciências e todas dotadas de padrões de sociabilidade. O Dia de hoje grita a
necessidade de reparo do erro de fazer do escravizado uma coisa, com valor de
negócio.
Os ingênuos – ou maliciosos? – poderiam pleitear um dia da
consciência branca, para o descendente do europeu, ou amarela, dos asiáticos,
como se não fossem os portadores da pele negra os estuprados, torturados e
assassinados por gerações. O Brasil, último país das Américas a abolir,
formalmente, a escravidão, está inadimplente com a maior parte de seu povo, a
continuar sofrendo com racismo, apesar de cotas e tímida inclusão de
tataranetos dos sequestrados da África.
(A Tarde)
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