Às turras com o Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro disse nesta
quarta-feira: "Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido
lugar." Deu a entender que alguém estava prestes a exorbitar: "Eu não
vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando." Horas
depois, a Suprema Corte derrubou a lona da barraca. Fez isso ao consolidar duas
decisões que vinham sendo esboçadas nos últimos dias. Numa, formou-se no
plenário maioria a favor da manutenção do inquérito sobre fake news, cuja
legalidade é contestada. O placar parcial é de 8 a zero. Noutra decisão, o
Supremo manteve como alvo deste inquérito o ministro Abraham Weintraub. Decisão
quase unânime: 9 a 1. Foi, por assim dizer, um estímulo para que Bolsonaro
apresse a substituição do encrenqueiro, distanciando-o do Ministério da
Educação. Entre a noite de terça-feira e a manhã desta quarta, Bolsonaro
dirigiu-se duas vezes aos brasileiros. No seu melhor estilo, disse uma coisa e
também o seu contrário. Numa primeira fala, escrita nas redes sociais à noite,
declarou que não pode "assistir calado" à violação de direitos e
perseguição de ideias. A belicosidade de Bolsonaro produziu uma unidade rara no
Supremo. O inquérito sobre fake news, avalizado pelo plenário, foi aberto no
ano passado por Dias Toffoli sob o signo da ilegalidade. Ao votar, os ministros
mencionaram balizas que precisariam ser observadas no inquérito. Coisas
comezinhas. O presidente vinha se queixando das decisões monocráticas do
Supremo. Reclamava sobretudo de despachos individuais de Alexandre de Moraes e
Celso de Mello. Cobrava decisões do colegiado. Pois bem, o plenário falou. E
usou um timbre anti-Bolsonaro. É como se os ministros da Suprema Corte
desejassem deixar claro que Bolsonaro toca trombone sob uma barraca de vidro.
(Trechos extraídos de Josias de Souza, colunista da UOL)
0 comments:
Postar um comentário