A anorexia nervosa, que afeta sobretudo
as adolescentes, não se explica pelo medo de engordar, mas pelo prazer de
emagrecer, pertencendo assim ao domínio das dependências, sugere um estudo. Esta
patologia rara, de componente genética, predomina nas meninas - a proporção é
de nove para um rapaz - e atinge entre 0,2% e 0,5% da população, com um pico
dos 13 aos 25 anos, segundo Philip Gorwood, chefe de serviço do hospital de
Saint-Anne, em Paris.
Muito menos frequente que a bulimia
(existem cinco bulímicos por cada anoréxico), a anorexia tem a mais elevada
taxa de mortalidade por suicídio de todas as patologias mentais (como a
bipolaridade ou a esquizofrenia), segundo o especialista que dirigiu o estudo
publicado na revista especializada Translational Psychiatry.
"Estamos muito desprevenidos ao
nível terapêutico, e nenhum país tem um medicamento com uma AMM (autorização de
venda ao público) para a anorexia", observou, referindo que só há
"verdadeiras remissões num terço dos casos".
A anorexia tem uma forte componente
hereditária (70%), segundo estudos anteriores, nomeadamente nos graus de
parentesco diretos e nos gêmeos. Contudo, "não existe um gene da anorexia,
mas genes de vulnerabilidade" em relação a este distúrbio, sublinha
Gorwood.
O diagnóstico deste distúrbio do
comportamento alimentar assenta habitualmente em três critérios internacionais:
a presença de uma restrição alimentar que conduz à perda de peso, uma perceção
distorcida do peso e do corpo e um medo intenso de engordar, de acordo com o
manual da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5).
Todavia, os investigadores que defendem
que o distúrbio é mais uma dependência que uma fobia, quiseram aprofundar essa
pista aberta através de trabalhos recentes que apontam um desregulamento do
"circuito da recompensa" observado nas dependências.
Os investigadores analisaram, então, as
reações espontâneas de 70 mulheres doentes e de 20 saudáveis ao
apresentarem-lhes imagens de pessoas com diferentes pesos, utilizando um teste
que mede o nível de sudação da pele. A emoção provocada por algumas imagens
desencadeia, de fato, um aumento rápido e automático da transpiração.
Nestas doentes, de pesos variados e
apresentando diversos níveis de gravidade da doença, a visão das imagens de
mulheres de peso normal ou excesso de peso provocou uma reação comparável à dos
sujeitos sãos.
Em contrapartida, perante imagens de
magreza, as doentes tiveram reações emocionais positivas, ao passo que as
mulheres saudáveis não tiveram uma reação particular. Nas doentes com anorexia
nervosa, o aumento de transpiração perante as imagens de magreza corporal
poderá explicar-se com a presença de uma forma específica (chamada "alelo
Met") do gene, segundo a análise dos investigadores.
Esta "fortíssima
probabilidade" de a anorexia ser "do domínio das dependências"
deverá melhorar a adoção de algumas abordagens terapêuticas como, por exemplo,
"a terapia com plena consciência", defendeu Philip Gorwood.