Em entrevista à revista
alemã Capital, publicada
em agosto deste ano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o escândalo de propinas em contratos da Petrobras havia
começado no governo Lula. Mas Narciso só acha feio o que não é
espelho. No livro Diários da
Presidência – volume 1, a ser lançado em 29 de outubro, FHC assume que
tinha conhecimento de um esquema de corrupção na estatal em seu primeiro
mandato e nada fez para interrompê-lo. Em seu livro de memórias, o
ex-presidente revela ter sido alertado em 1996 sobre um escândalo na Petrobras
em um almoço com Benjamin Steinbruch, dono da Companhia
Siderúrgica Nacional e indicado pelo tucano para o Conselho da estatal. “Eu queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é
um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é Orlando Galvão Filho, embora
Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando Galvão.” Em 1996, Rennó era
presidente da estatal e Galvão Filho o presidente da BR Distribuidora. O tucano
registrou ainda “que todos os diretores da Petrobras são os mesmos do conselho
de administração” e sugeriu a existência de um jogo de cartas marcadas nas
decisões da empresa. “São sete diretores e sete membros do conselho. Uma coisa
completamente descabida.” Embora tenha afirmado que havia necessidade de
“intervenção” na Petrobras, FHC preferiu não interferir. “O problema é que eu
não quero mexer antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo
Congresso.” Esta, sim, é uma informação que mereceria dos jornalões da mídia
nativa uma manchete, espaço sempre reservado apenas a acusações contra Dilma e
Lula. Os petistas só foram acusados em delações premiadas e não há provas
materiais contra eles. Por outro lado, o diário de FHC deixa claro: ele sabia
de tudo.
(Carta Capital)