Inspirado no avô, Djalma Carneiro Batista, de 44 anos, abriu um bar no
Mercado Municipal de Serrinha, a 200 quilômetros de Salvador, no nordeste da Bahia. Tradicionais nos
botequins, as cervejas e espetos de churrasco integram o cardápio do espaço,
mas estão longe de serem os itens mais procurados. Em garrafas de vidro ou de
plástico, cachaças mantidas com cobras, aranhas e escorpiões são os aperitivos
que mais fazem sucesso. “Tem gente que diz que bebe e fica curado de doenças.
Tem gente que diz que é afrodisíaco. Só sei que o povo gosta”, detalha ‘Djalma
das Cobras’, como é conhecido entre moradores e clientes. O comerciante tem
variedade. Além de serpentes como salamanta, coral, corre-campo, malha de
traíra, jiboia e pipó, também mantém mergulhados na cachaça aranha
caranguejeira, escorpião, teiú e calango verde. Djalma conta que a maioria dos
animais foi herdada do avô, que também embebia os bichos em cachaça e vendia
para os clientes. “Esses animais eu usei mais do meu avô. Ele tinha uma budega
no bairro do Bomba e eu trouxe [os frascos com os] animais para cá. A maioria
tem uns 55 anos. Outros devem ter uns 35”, estima. O avô de Djalma morreu pouco
após a abertura do bar do neto, há quase 30 anos. Os animais caçados por ele,
entretanto, ainda dão sabor às bebidas daqueles que apreciam cachaça no
município. “Costumam dar um gosto de peixe”, detalha sobre a mistura do álcool
com os bichos. “Até hoje, nunca ninguém reclamou ou se sentiu mal. Isso eu
garanto”, completa. O médico e toxicologista Daniel Rebouças,
diretor do Centro Antiveneno da Bahia (Ciave), informa que as pessoas que
consomem bebidas à base dos animais citados não correm risco de envenenamento.
Entretanto, podem ser acometidos de infecção gastrointestinal. "O álcool
neutraliza [o veneno], mas o animal pode estar apodrecido e transmitir alguma
contaminação", detalha. Em caso de contaminação, Rebouças detalha que a
pessoa que ingere a bebida pode sentir dor abdominal, diarréia, mal estar e
febre. "O efeito pode ser maléfico", garante. Além dos riscos, o
toxicologista afirma que esse tipo venda é ilegal. "Não é permitida essa
comercialização no país e isso deve ser fiscalizado pela Vigilância Sanitária",
afirma.
(G1)