“Recusar-se ao diálogo, dizer não às reformas, é ficar condenado a ser reacionário. Reagem contra tudo. Isso é que era a verdadeira direita reacionária do passado. Agora, uns querem ser a vanguarda e viram reacionários.” Não, a frase não é resultado de uma reação abrupta, e até agora inédita, da presidenta Dilma Rousseff ao jogo duro ensaiado pela dupla Renan Calheiros-Eduardo Cunha no Congresso. Foi dita por Fernando Henrique Cardoso há exatos 20 anos e está registrada na edição de 30 de março de 1995 da Folha de S.Paulo. Cheguei a ela após fechar o jornal, na edição de 30 de março de 2015, com a sensação aguda de que vivemos o pior momento da República, quiçá do universo. Pelo arquivo do diário, voltei ao tempo como quem busca um respiro – e para saber se há 20 anos estaríamos menos angustiados do estamos hoje. O que encontrei é um mundo assustadoramente parecido com o atual. Na manchete do caderno de política, o presidente recém-eleito dizia não se conformar com a má vontade dos parlamentares diante das reformas (tributária e previdenciária) encaminhadas pelo governo. “A reforma vai demorar mais tempo do que imaginava. Essa é uma questão política que tem que ser negociada. Nós somos a expressão da responsabilidade popular. A única expressão democrática. O resto é gritaria. O governo entende o papel do Congresso. Esse papel não é dizer sim. É dizer o que acha que deve ser feito.” O recado, 20 anos antes de Calheiros dizer no Senado que o Congresso não seria um anexo do Executivo, era claro. Fazia parte de uma ofensiva do PSDB à tentativa do seu maior aliado, o PMDB, de se antecipar ao governo na discussão das reformas. A bancada tucana na Câmara apostava uma corrida com os aliados pero no mucho para centralizar as discussões de matérias referentes, por exemplo, às novas regras de tributação. Os peemedebistas, porém, aproveitavam a demora do governo em enviar ao Congresso seu projeto de emenda constitucional e encampavam outra proposta, com outros interesses contemplados, de autoria do então deputado Luís Roberto Ponte (PMDB-RS).
01 abril 2015
Reginaldo Monteiro

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