05 julho 2014

Jovem que se tornou médico com ajuda de livros encontrados no lixo é destaque

Ele tinha tudo para dar errado. Mas decidiu contrariar os paradigmas de um garoto pobre, negro e criado em meio à violência, drogas e alcoolismo. Cícero Pereira Batista tem 33 anos que podem ser triplicados pelas experiências que viveu. Após tirar literalmente do lixo sua esperança de uma vida melhor, hoje comemora a conquista do diploma de médico conquistado graças à obstinação, como ele mesmo define. Foi na quadra 20 da QNL, mais conhecida como Chaparral e pelos altos índices de violência, que o então menino Cícero cresceu. Na época, ainda era chamado de Juca pelos sete dos 20 irmãos que conseguiram sobreviver à pobreza. Quando tinha apenas três anos, o pai morreu e o futuro que já seria difícil se tornou pior. A mãe de Cícero encontrou no álcool a fuga para as mazelas da periferia que tomaram conta de sua casa. O irmão mais velho passou a traficar e usar drogas. Momentos que marcaram a mente de Juca. No meio dos restos, Cícero encontrava livros e discos de vinl velhos. Os livros passaram a ser o refúgio de tanta desgraça. Os vinis, a trilha de uma trajetória que ele jamais imaginava percorrer. A irmã de Cícero o matriculou na escola pública próxima a sua casa. Só conseguiu chegar ao ensino técnico graças à ajuda de professores e amigos. Decidiu fazer o curso de técnico em enfermagem que passou em segundo lugar na seleção feita pelo Cespe, banca que integra a UnB (Universidade de Brasília). Ao concluir o curso logo veio a primeira vitória. Foi aprovado no concurso da Secretaria de Saúde para técnico em enfermagem e passou a trabalhar no HRT (Hospital Regional de Taguatinga). Mas ainda era pouco para quem estava acostumado com tanta dificuldade. Então ele buscou o que já procurava desde a infância. Passou para o vestibular de medicina em uma faculdade particular de Araguari. Cícero estudava de segunda a sexta-feira e aos fins de semana tirava plantão de 40 horas no HRT. Não tinha outro jeito. Acabava perdendo as aulas da manhã de segunda, mas tinha a ajuda dos professores. O salário que recebia ia todo para o pagamento da mensalidade. Sobrevivia de doação e da própria determinação. Como a rotina estava muito difícil, Cícero decidiu fazer o Enem e tirou nota suficiente para lhe garantir uma bolsa de estudos em uma faculdade particular do DF. Passou a estudar medicina no Gama onde enfrentou o preconceito racial e a rotina de estudos. Mas para quem trazia cicatrizes da infância, ser vítima de preconceito era apenas mais uma etapa a ser vencida.
(R7)
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