Noutros tempos, sempre que estava em apuros,
Bolsonaro recorria a um versículo multiuso extraído do Evangelho de João:
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." O avanço da
investigação sobre a trama golpista proporcionou, finalmente, o encontro do
capitão com a verdade, e a verdade não o libertará. Ao contrário, os achados da
Polícia Federal pavimentaram o caminho que conduz o "mito" à cadeia.
Dois espetáculos não cabem ao mesmo tempo num só
palco. Ou num único golpe. Estavam em cartaz duas apresentações. Numa,
vitaminado pela vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, Bolsonaro concedia
entrevistas em série pregando uma "pacificação" extemporânea escorada
numa "anistia" inusitada. Noutra, a Polícia Federal apertava o certo
ao alto-comando do golpe.
Ao revelar na Operaçao Contragolpe que a virada de
mesa incluía o extermínio de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, a PF como que
unificou o espetáculo. Do ponto e vista judicial, Bolsonaro foi condenado a
providenciar explicações. Seu silêncio sinaliza a inexistência de esclarecimentos
críveis. Sob uma ótica política, o capitão assiste, impotente, à erosão do
poder que imaginava ter.
A direita e o centrão renderam-se à evidência de
que terão que construir uma chapa sem o veneno golpista de Bolsonaro. Longe dos
refletores, começam a ser desobstruídas as articulações na seara conservadora.
Bolsonaro tende a ser distanciado dos entendimentos na proporção direta da sua
aproximação com os indiciamentos pelos crimes de tentativa de golpe, abolição
violenta do Estado Democrático de Direito e formação de organização criminosa.
0 comments:
Postar um comentário