Bora parar com o discurso
contrário à realidade de que só não houve golpe porque a vocação democrática
dos militares brasileiros impediu. Ou dito de outra maneira: porque os
golpistas, entre os fardados, eram poucos. Não houve golpe simplesmente porque
os comandantes das Forças Armadas, quando Bolsonaro lhes propôs em julho e
depois em dezembro de 2022 rasgar a Constituição, se opuseram. Foi porque não
viram condições para tal. O governo dos Estados Unidos, e representantes de
governos europeus, avisaram com antecedência que não apoiariam o golpe, e que
sancionariam o Brasil ele ocorresse. Sanções pesadas, capazes de provocar
sérios danos ao país. De resto, as elites brasileiras mais influentes eram
contra qualquer aventura golpista. Elas parecem finalmente ter aprendido que
derrubar governos não é uma coisa boa para os negócios. Levou muito tempo para
que aprendessem. Bolsonaro ouviu da boca do presidente Joe Biden, ao pedir-lhe
ajuda para derrotar Lula, que o governo americano não a daria. Foi a Casa
Branca, a quatro meses das eleições, que vazou a informação sobre o pedido de
ajuda. Um vexame! Bolsonaro gastou seus quatro anos de desgoverno a minar por
todos os meios a democracia ainda capenga que temos, e ao concluir que não
seria reeleito, cuidou amadoramente de articular o golpe que não foi possível. Somos
o país da jabuticaba, que se orgulha dela ter nascido aqui, o que é uma fake
news, uma das raras fake news inocentes. Seremos a partir de agora o país que
gravou a reunião de planejamento de um golpe. Não é jabuticaba.
(Ricardo Noblat)
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