De seu posto, no Gabinete de Segurança Institucional, o general
Augusto Heleno observa em silêncio as mudanças operadas pelo presidente Jair
Bolsonaro. Heleno nunca mais foi visto cantarolando, como fez há quase três
anos ao adaptar o refrão do samba "Reunião de bacana", que falava de
ladrões, e soltar a voz: "Se gritar pega centrão, não fica um, meu
irmão...".A mudez atual é compreensível: aquele grupo político que
Bolsonaro, seus generais e os fanáticos olavistas apontavam como a nata do
fisiologismo é hoje quem manda na República. O espaço que faltava ser ocupado
pelo centrão foi ofertado ontem de bom grado pelo presidente ao senador Ciro
Nogueira (PP-PI), que deverá assumir a Casa Civil. Na pressa em fazer a
mudança, Bolsonaro nem teve a cortesia de avisar com antecedência ao general
Luiz Eduardo Ramos, ocupante da pasta, que ele seria defenestrado. "Eu não
sabia. Fui atropelado por um trem", admitiu o general à jornalista Eliane
Cantanhede, do Estado de S. Paulo. Apesar de estar "em choque", Ramos
usa a lógica militar para manter-se fiel, mesmo que o presidente não lhe tenha
fidelidade alguma. "Soldado não escolhe missão. Se ele me der outra no
governo, eu aceito".
(Chico Alves – colunista da UOL)
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