A maioria das crianças e adolescentes
assassinados no Brasil é negra e vítima de homicídio por arma de fogo. A
conclusão é do relatório ‘Violência Letal contra as Crianças e Adolescentes do
Brasil’, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
Em 2013, segundo o estudo, aconteceram 3,6 chacinas da Candelária por
dia no Brasil: 29 crianças e adolescentes foram assassinados diariamente. Ao
todo, foram 10.520 vítimas de homicídio de zero a 19 anos. Quase metade das
mortes aconteceu na faixa etária dos 16 aos 17 anos. “Na contramão da
realidade, inclusive a do Brasil, onde a história recente marca decisivos
avanços na esperança de vida da população, ao observar a evolução da violência
homicida na faixa de 16 e 17 anos de idade, as previsões são sombrias e
preocupantes”, diz o estudo coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. Os
dados do relatório revelam que crianças e adolescentes negros são vítimas de
homicídio 178% mais do que brancos, considerando o tamanho das respectivas
populações. Em 2013, entre os jovens de até 17 anos de idade, a taxa de
homicídios de brancos foi de 4,7 por 100 mil habitantes e a de negros, 13,1. A
situação fica ainda mais dramática quando se foca nos adolescentes de 16 e 17
anos. Enquanto a taxa de homicídios de brancos foi de 24,2 por 100 mil
habitantes, a de adolescentes negros foi de 66,3. Ou seja: proporcionalmente,
morreram quase três vezes mais negros que brancos. Para elaborar o estudo, o
sociólogo Julio lançou mão de dados do Ministério da Saúde, que mostram queda
no número de mortes de crianças e adolescentes por causas naturais nos últimos
33 anos. Em 1980, a taxa de mortes por causas naturais de jovens era 387 por
100 mil habitantes. Já em 2013, caiu para 83,4 - reflexo da ampliação do
sistema de saúde pública, saneamento básico, educação e melhoria nas condições
de vida da população. Em comparação a outros 85 países, o Brasil fica em 3º
lugar no ranking de homicídios de crianças e adolescentes, atrás apenas de
México e El Salvador.
(O Dia)