A
estreita relação entre a Prefeitura de Pederneiras e a empresa Auto Viação
Jauense é de queimar neurônios. Desde o ano passado, a administração comandada
pelo prefeito Daniel Camargo (PSB) vai buscando entregar a ela da forma menos
burocrática e transparente possível, serviços que envolvem o transporte de
passageiros e de estudantes. E isso não significa pouca coisa.
É
sempre bom lembrar que Camargo ousou antecipar a Jauense como vencedora da
licitação para a execução do serviço de transporte coletivo municipal. "Estamos encerrando, vamos ter prazo ai
pra recurso, pra julgamento, mas acredito que a gente não vai ter mais problema
nenhum. Então, provavelmente em breve a gente assina o contrato com a empresa
Jauense, pra ficar definitivamente essa empresa na cidade de Pederneiras”,
foi o que disse o prefeito em programada de rádio. A ética e a boa gestão
simplesmente evaporaram nesse episódio. Se a licitação ainda estava em
andamento e com prazos a serem observados, isso significou o que, senão a
cantada da bola 7? Não houve dúvida, a empresa venceu mesmo e está ai, atuando.
O
“pra ficar definitivamente” dito pelo prefeito em relação à Jauense vem se
materializando desde então. No segundo semestre do ano passado Camargo encostou
veículos da frota municipal que transportavam alunos do ensino fundamental e,
como num passe de mágica, a Jauense assumiu o serviço. E assumiu sem que se
exigisse, ao menos, a faixa indicativa de “Escolar” nas unidades de transporte.
O procedimento licitatório foi subestimado, e um contrato para fornecimento de
passes foi solução rápida e liquidou a questão. A Jauense venceu de novo, desta
vez por WO.
Em
2016 pessoas simples, moradoras do Paturis, não morderam a isca. Camargo
tentou impor a seus filhos e outros alunos de Santelmo e da Figueira uma salada
de frutas. Era a linha circular travestida de transporte escolar. Aumentou-se o
trajeto e liberaram-se os ônibus para atuarem embarcando e desembarcando
passageiros comuns pelo caminho e, assim, um absurdo de tempo que estudantes
levavam no trajeto. Aulas perdidas, estudantes “esquecidos” em ponto de
embarque foi o saldo desse desastre. O jogo que a Prefeitura tentou fazer com
que a Jauense ganhasse, graças a coragem dos que resistiram e fizeram valer o seu
direito, traduziu-se em derrota.
Já
esses últimos e turbulentos meses tem revelado algo que precisa ser devidamente
esclarecido e sem demora. Trata-se do escandaloso caso que envolve o transporte
intermunicipal de estudantes. A Jauense venceu a licitação com um preço menor
que o do ano passado. O trajeto pela manhã para Bauru, por exemplo, caiu de R$
252 em 2015, para R$ 222 em 2016 . Dividido em partes iguais entre a
prefeitura e os estudantes, caberia a cada uma delas R$ 111. Mas o resultado tem
sido outro, face ao aumento que a empresa impôs à mensalidade dos que utilizam
o transporte: a prefeitura desembolsa R$ 111, mas os estudantes arcam com cerca
de R$ 133. Então, o valor da viagem, contratado a R$ 222, sobe para R$ 244. Ou
alguém explica a equação, ou uma grave irregularidade pode estar ocorrendo debaixo
das nossas narinas.
Para
fechar o raciocínio, é público e notório o vexame a que esses estudantes tem
sido submetidos não pela Jauense, mas pela administração de Camargo, porque a
esta competia as regras de condução do serviço, embora haja confirmação de
recuo à forma como o transporte tem sido nos últimos anos, o que caracteriza
mais uma vitória dos injustiçados que não se deixaram abater e foram à luta. E quanto
a regras, não houve no edital de licitação da prefeitura sequer a menção sobre trajetos
e pontos de embarque e desembarque, permitindo à empresa ditá-las a seu bel
prazer. As redes sociais estão a mostrar isso abundantemente.
Esperar
que uma empresa contratada para prestar serviço decida o que fazer com os
destinos de nossos estudantes é atestar a perda da responsabilidade e da autoridade.
É permitir que as pessoas passem a imaginar a existência de um conluio sem
precedentes na história do município.
Reginaldo
Monteiro
(Publicado no Jornal Pedra de Fogo, edição de 27/02/2016)
(Publicado no Jornal Pedra de Fogo, edição de 27/02/2016)