O perfil das emissões de
gases de efeito estufa no Brasil tem mudado desde o início da década de 90 do
século passado. A queda nas taxas de desmatamento da Amazônia foi neutralizada pelo aumento da frota
de veículos e o predomínio dos caminhões movidos a diesel no transporte de mais
da metade das cargas produzidas no País. Resultado: o setor de energia passou
a representar 29% das emissões totais, quase o triplo dos 11% em 2003. Enquanto
no mundo a indústria do carvão é a principal emissora de poluentes, no Brasil,
a culpa é do petróleo, cuja cadeia respondeu por 72%
das emissões de dióxido de carbono em 2013, segundo o relatório do Observatório
do Clima divulgado em agosto. No mundo, o carvão integra as matrizes de produção de energia eletrotérmica, enquanto o perfil
brasileiro de emissões no setor está relacionado ao uso de óleo no transporte
(39,8%), na indústria (20,3%), na geração de eletricidade (16,5%) e na produção
de combustíveis (6,5%). Nos últimos dez anos, o segmento de transportes foi o
que apresentou as mais elevadas taxas de crescimento do consumo de energia,
5,6% ao ano entre 2003 e 2013. O perfil de demanda é liderado pelo modal
rodoviário, que respondeu por 93% do consumo em 2013, e pela pesada dependência
do petróleo, que respondeu por 81% do consumo de combustíveis. O transporte de
cargas produziu 97 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2013, o que
correspondeu a 46% das emissões do setor. “O Brasil é um país sobre rodas.
Serão necessários muitos anos para mudar essa realidade”, afirma o coordenador
do núcleo de logística esupply chain da
Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. O desafio é diversificar a matriz de
transportes e avançar no uso de etanol e biodiesel nos tanques de caminhões e
máquinas pesadas. O modal rodoviário consome cinco vezes mais que o ferroviário
e sete vezes mais que a cabotagem. Destravar os investimentos no setor
sucroalcooleiro exigirá manter a autonomia da Petrobras para
reajustar os preços dos derivados e o reforço financeiro das empresas que atuam
no segmento. Desde 2010, mais de 60 usinas de açúcar e etanol fecharam ou
ingressaram na Justiça com pedido de recuperação.
(Carta Capital)