As consequências de nível
nacional do pessimismo, nós estamos conseguindo ver bastante bem: retração da
economia, demissões, inflação e todas as outras más notícias que os jornais têm
trazido nos últimos meses. Mas esse sentimento também tem efeitos muito nocivos
para o nosso organismo. O pessimismo, se mantido por muito tempo, pode chegar a
danificar o cérebro. “Ele funciona como um fator estressor de pequena
quantidade e longa duração. Os neurônios possuem uma camada de proteção
neurológica. Se a pessoa mantiver um estresse crônico como esse, vai haver uma
diminuição dessa proteção”, explica o psiquiatra Kalil Duailibi, diretor
científico do departamento de psiquiatria da Associação Paulista de Medicina. A
consequência direta disso é que essa pessoa fica muito mais propensa a
desenvolver qualquer tipo de doença neuronal, principalmente a depressão. Acima
de três meses de exposição a esse tipo de estresse, já é possível verificar
esse tipo de dano. Com seis meses de exposição, ele certamente ocorrerá. Uma pesquisa
publicada no periódico “Science Translational Medicine” conseguiu provar que os
pensamentos negativos afetam a eficácia de tratamentos. Os pesquisadores
submeteram um grupo de 22 voluntários saudáveis a uma dor nas pernas causada
por um feixe de calor. Em uma etapa do estudo, aplicaram nos voluntários um
potente analgésico – que aliviou a dor dos participantes. Em um segundo
estágio, os pesquisadores mentiram aos voluntários, dizendo que o medicamento
seria interrompido. Inacreditavelmente – já que eles ainda estavam sob efeito
da droga –, os participantes relataram um aumento agudo da dor. A pesquisa
comprovou que, quando a pessoa espera que vá sentir dor ou que o tratamento não
vá funcionar, de fato, essa expectativa se torna realidade. Apesar de o experimento
ter sido realizado com um grupo pequeno de voluntários e de ser específico para
a dor, a comunidade científica acredita que as conclusões valham para outros
tipos de tratamentos. Outro que sofre os efeitos do pessimismo é o coração. O
estudo Women Health Status, realizado com 97 mil mulheres, conseguiu demonstrar
que as participantes otimistas tiveram 10% a menos de chances de um infarto e
15% menos chances de mortalidade de uma forma geral. É como se os otimistas
tivessem um bônus de vida.
(IG)