A mais recente fase da operação Lava Jato, que resultou na
prisão dos presidentes das empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht, na
semana passada, lançou novas dúvidas sobre o futuro de grandes obras em
andamento conduzidas pelas duas empresas, em especial pela última. Responsável por
alguns dos projetos de maior vulto no Brasil ─ muitos dos quais em parceria com
o poder público ─ o grupo Odebrecht, dono da CNO (Construtora Norberto
Odebrecht, que traz o nome do fundador), é gigante também nos números: está
presente em 23 nações, fatura R$ 100 bilhões por ano e se tornou em 2014 a
segunda maior companhia privada do país por faturamento, atrás apenas do
frigorífico JBS. Mas o poderio econômico do conglomerado, fundado há mais de 70
anos, vai resistir aos desdobramentos da operação Lava Jato? E mais: como isso
afetará o andamento de obras importantes, como a construção do submarino
nuclear, a usina de Belo Monte ou mesmo as Olimpíadas de 2016? Um dos
principais desafios, dizem especialistas ouvidos pela BBC Brasil, envolve a
capacidade de financiamento da empresa. Obras de grande magnitude necessitam de
somas significativas de dinheiro e são financiadas por meio de capital próprio,
ações e debêntures (títulos de dívida que a companhia emite no mercado para
captar recursos) ou empréstimos bancários ─ públicos e privados. O problema é
que, dependendo do rumo das investigações, essa fonte de capital pode
"secar", prejudicando não só a saúde financeira da companhia quanto o
andamento das obras realizadas por ela. A construtora, por exemplo, é uma
das 23 empresas que teve o bloqueio cautelar imposto pela Petrobras em dezembro
do ano passado. Como resultado, está impedida de ser contratada ou participar
de licitações da estatal. Na outra ponta, o crédito no mercado internacional
vem diminuindo para companhias investigadas pela Lava Jato. No Brasil, as
garantias pedidas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) ─ até então o principal fiador das empreiteiras – aumentaram, tornando
a concessão dos empréstimos mais seletiva. E os bancos privados, por sua vez,
também recuaram: as linhas até existem, mas o custo aumentou substancialmente ─
assim como as exigências e as garantias.
(Último Segundo)