11 maio 2015

MATO GROSSO: 'Chuva inteligente' teria destruído contratos investigados

Você já ouviu falar em chuva esperta? Parece que na pacata cidade de Camapuã, com seus 13 mil habitantes, apareceu um novo fenômeno meteorológico. “Essa daí é inteligente”, diz o aposentado Sílvio da Costa. Se a chuva é inteligente, o pessoal de Camapuã também não é burro. “É fora de série a ‘robatina’”, completa. Foi por causa de um suposto pé d’água que o Gaeco fechou o tempo em uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul. O Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público está de olho em mais de R$ 8 milhões em contratos fraudulentos da prefeitura. O polo industrial da cidade tem galpões... E mais nada. Máquina, obra, operário? Nada. “Essa empresa, que está realizando obras no parque industrial aqui do município, ela recebeu dois pagamentos na ordem de R$ 500 mil e pouco. Pelo volume de dinheiro que essa empresa movimentou, é algo sem cabimento”, diz o vereador Giovani Rocha.A empresa se chama Arbaes Construtora, e o repórter secreto do Fantástico foi até a sede dela. No endereço informado pela própria empresa à Receita Federal, não há muro, portão ou empresa. A casa “é de um ex-secretário de Administração, hoje é um assessor. Ele trabalha como assessor dentro da Secretaria de Administração do Município”, diz o vereador. O asfalto do bairro é coisa de louco. A empresa responsável se chama 2A. E a sede dela fica bem na frente da prefeitura. Ao todo, ela tem cerca de R$ 5 milhões de contratos com as duas gestões do mesmo prefeito. O repórter Eduardo Faustini não encontra ninguém. No ano passado, o Ministério Público começou a receber denúncias. “As denúncias davam conta de desvio de recursos públicos a partir de contratos forjados, contratos fraudulentos, de aquisição de material de construção, bem como serviços na área de construção civil”, diz Marcos Alex Veras de Oliveira, coordenador da Gaeco no Mato Grosso do Sul.  “O Ministério Público local requisitou as licitações, empenhos, pagamentos e documentos que comprovassem aqueles pagamentos que tínhamos notícia que vinham ocorrendo, e que estavam sob investigação”, explica Marcos Roberto Dietz, promotor do Gaeco/MS.  Foi aí que caiu em Camapuã a chuva inteligente. “O que nos chamou a atenção foi a justificativa apresentada pelo então procurador jurídico do município, Maurício Duailibi, para justificar o extravio desses documentos. Simplesmente ele alegou que dez caixas de documento teriam sido danificadas por água da chuva. A chuva esperta teria caído no dia 10 de março do ano passado, mas o boletim de ocorrência foi feito muito tempo depois. “O registro da ocorrência do extravio desses documentos se deu somente 60 dias após o evento chuva e após o Ministério Público ter cobrado por várias vezes que se enviasse essa documentação”, diz o coordenador da Gaeco no Mato Grosso do Sul. A história da chuva virou motivo de chacota na cidade. “Os papéis que eram para prova de negociação, de compra, de assim, aquilo ela molhou. O IPTU, não”, ironiza o aposentado Sílvio da Costa.
(globo.com)
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