Na primeira frase do livro O prazer é todo nosso, aquela
menina de 22 anos sentada num café na Frei Caneca na tarde de
sexta-feira (1º) resume toda sua história: está na prostituição por opção, e
não por falta dela. Poderia seguir a carreira para a qual estudou — é formada
em Letras pela Universidade Federal de São Carlos (SP) — mas sua vocação mesmo
é ser puta. Lola lançará o livro em 11 de agosto, às 18 horas, na
Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista. Está ansiosa.
"Eu nunca imaginei [que escreveria um livro]",
confessa. Sobretudo um cuja tiragem inicial fosse de 10 mil exemplares — no
mercado editorial, uma tiragem regular não passa do terceiro milhar. Lola é uma
grande aposta — tão grande que, antes mesmo do título chegar às livrarias, a
autora já foi procurada com propostas para levar o livro para o teatro e ao
cinema. O convite para lançar um livro surgiu há aproximadamente um ano. Talvez
em busca de um novo fenômeno à la Bruna Surfistinha (comparação que não agrada
a Lola), surgiram editoras — no plural — com propostas de livros. "Me
ofereceram, inclusive, ghost-writer. Mas se eu aceitasse, estaria assinando
atestado de burrice", comenta a menina formada em Letras. Entre fragmentos
de sua vida pessoal (como a relação com os pais depois que sua vida de
prostituta ganhou manchetes) e casos de sua rotina profissional (como a vez em
que um cara pediu a Lola que lhe fizesse um fio-terra), Lola escreveu quase 200
páginas. Com elas, busca ajudar as pessoas a entender a escolha que fez e,
"talvez, até a si mesmas". Sobre agressões a prostitutas, ela falou que partem, inclusive, de
mulheres que se dedicam a lutar pelo feminismo. Para Lola, existe uma certa
opressão exercida por elas. "Uns dias atrás eu fui em um debate na USP
sobre prostituição na Copa. Fui com uma amiga travesti — ela estava
participando; eu fui como ouvinte", lembra Lola. "Saí de lá
indignada! Esse pessoal falando que 'toda puta é um objeto'. Para mim, [ser puta] é empoderamento. Ser feminista é definir as
próprias regras, é ser dona do próprio corpo, e eu sou dona do meu. 'Eu sou
puta e sou feminista', como diria Gabriela Leite [prostituta e socióloga que
idealizou a ONG Davida e a grife Daspu, falecida em 2013]."
(brasilpost)