Almino Afonso, 84 anos, advogado e político paulista, filiado ao PMDB. Foi ministro do Trabalho no governo do presidente João Goulart, na primeira metade do ano de 1963. No dia 31 de março, ocupava uma cadeira na Câmara dos Deputados, na base de sustentação do governo. Ao chegar à Câmara, no dia 31, tomei conhecimento de que a marcha do general Mourão Filho, de Juiz de Fora para o Rio, já estava acontecendo, com o propósito de derrubar o governo João Goulart.
Fiquei surpreso, embora o clima de inquietação já fosse grande. Saí de lá e fui para a casa de Virgílio Filho, líder do governo no Senado. Ele também não tinha noção do movimento militar e por isso tomamos a decisão de ligar para o Goulart, que estava no Rio, no Palácio Laranjeiras.
Na conversa, o senador lhe deu a versão que tínhamos ouvido e pediu que dissesse o que ele deveria dizer na tribuna, caso fosse discursar mais tarde. O presidente respondeu que não havia nada que pudesse inquietar, que não havia procedência na versão do movimento militar, que era parte do tumulto que a oposição criava. Na extensão telefônica, no seu gabinete, encontrava-se o general Assis Brasil. Goulart perguntou a ele o que havia de verdade.
O chefe da Casa Militar respondeu então que não havia nada que escapasse à rotina. O presidente interpelou outra vez: 'Não há nada?' E ele respondeu: 'Nada, absolutamente nada, presidente.' O Jango diz para o Artur Virgílio: 'Tu ouviste, Artur. Não há nada. Não passa da toada da oposição.' O senador: 'Posso transmitir em meu discurso no Senado o que acabo de ouvir?' Goulart: 'Pode não, deve.'
(Estadão)
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