12 maio 2012

CORAGEM: Mãe planejou uma filha para salvar a outra


Jênice foi a primeira mulher do Brasil a abrir caminho para que a gravidez ajude crianças nascidas com doenças genéticas
Quando os dois irmãos chegaram para dividir a casa em Santos, litoral paulista, Jênyce Reginato, a mais velha dos três, logo decidiu que queria ter família grande. “Adorei a ideia de casa cheia. Já menina passei a sonhar em ter mais de um filho”, lembra.
Não imaginava, porém, que sua segunda gravidez vivenciada aos 32 anos – fruto do casamento com Eduardo Cunha – seria um marco não só pessoal mas também para a ciência brasileira.
A filha mais nova de Jênyce foi planejada não apenas para aumentar o núcleo familiar dos Reginato Cunha. Em um procedimento pioneiro – de selecionar o DNA dos embriões antes mesmo da festilização in vitro – a caçula Maria Clara chegou ao mundo, no início de fevereiro, com a capacidade de curar a irmã Maria Vitória, portadora de uma doença genética.
Maria Vitória, 5 anos, nasceu com talassemia, um problema no sangue que exige transfusões semanais para evitar a anemia severa. Não há cura via medicamento e o tratamento definitivo é o transplante de medula óssea, parte do corpo que funciona como uma “indústria” de células sanguíneas.
Encontrar um doador compatível para o transplante pode demorar anos. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), responsável por coordenar o banco de doadores para este tipo de transplante, mostram que 25% dos pacientes nunca conseguem a doação. Os parentes podem se candidatar para o procedimento, mas Jênyce, o marido e os familiares não eram compatíveis com Maria Vitória. Até então, a pequena era filha única.
“Um irmão poderia ter as características semelhantes e, com sorte, seria um doador compatível. Pesquisei inúmeros livros e descobri que poderia contar mais do que com a sorte neste processo”, lembra Jênyce.
“A medicina poderia ser nossa aliada e realizar um duplo sonho meu: engravidar pela segunda vez, sem correr o risco da criança também nascer com talassemia, e ainda curar a minha mais velha.”
Outras 3 gestações
Maria Clara então passou a ser idealizada em conjunto pelo casal, pelo geneticista Ciro Martinhago e pelo médico especializado em reprodução humana, Edson Borges. A “gestação” do bebê com 100% de compatibilidade para o transplante – e que pudesse ser o doador medular por meio do sangue do cordão umbilical – durou 24 meses.
A caçula nasceu e as avaliações em laboratório mostraram que, sim, ela pode fazer com que a irmã não precise mais das transfusões de sangue. Em pouco tempo, “tomar o sanguinho” – como a menina chama o procedimento – não será mais necessário e os braços da garota também não serão mais incomodados semanalmente pelas agulhas. O transplante deve ocorrer no final do ano.
Foto: AEMaria Vitória beija Maria Clara: a caçula pode salvar a vida da irmã mais velha
A família Cunha cresceu e Jênyce, ao que tudo indica, também será um marco para outras gestações no País.
“Depois deste caso pioneiro, já começamos o atendimento para a seleção genética dos embriões de 20 pessoas. Já temos três processos de fertilização in vitro em curso, com gametas selecionados (dois para serem doadores compatíveis para crianças com talassemia e um para um portador de anemia falciforme)”, conta Martinhago.
“Pode ser uma luz no fim do túnel para as doenças genéticas e ainda desafogar a fila de espera para o transplante de medula óssea”, afirma o geneticista, que já projeta para um futuro não tão distante utilizar este mesmo procedimento para ajudar crianças com leucemia.
(IG)
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