A região de Bauru foi rica na época do café. Nesse
período os senhores, donos de grandes propriedades plantadores do “ouro” negro,
vieram para ficar ou só para acompanharem as colheitas durante temporadas. Os
barões do café como eram conhecidos construíram casas-sedes nas fazendas e
usaram mão de obra e engenheiros estrangeiros, a maioria italianos. Esses
imóveis nos dias atuais são tidos como casarões, graças ao tamanho e a
imponência dentro das cidades. Alguns são preservados pelos próprios donos ou
foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico,
Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Algumas
cidades preservam a história por meio de sua arquitetura. Em
Pederneiras, uma professora adquiriu e doou para o filho um casarão construído
entre 1925 e 1929. O imóvel tem cravado muitas histórias da família. Foi ali
que o boiadeiro José Nicolielo criou seus sete filhos. Ele era sogro da
professora que conservou e agora o filho dela conserva os detalhes da
arquitetura. É uma obra rara com mármore de Carrara.
Sem incentivo do Poder Público
A professora de história da arte Eunice Maria
Furlani Nicolielo, moradora de Pederneiras, é uma dessas raras pessoas que
preservam a história sem depender do Poder Público. Um casarão construído entre
os anos de 1925 e 1929 que foi do sogro dela continua na família. Ela comprou o
imóvel e doou para o filho que mora fora. Nas paredes da casa os detalhes que
fazem toda a diferença estão conservados. O casarão fica na rua Belmiro
Pereira O-32, na área central da cidade. Foi construído por Michel Neme, um
fazendeiro de café. “Na época do construção, o café era o motor propulsor da
economia da região. Neme tinha três fazendas grandes por aqui e vivia na casa.
O imóvel tem um quarto conjugado com um cômodo (quarto) de criança e mais dois
quartos, são quatro ao todo. Um banheiro que hoje já não é mais o original.
Naquele tempo usava apenas um banheiro. Três salas na frente com pintura
barroca no gesso. Copa e cozinha com azulejo bisotê. A casa é toda acabada em
mármore de Carrara.”
A
crise do café quase que obrigou o proprietário a vender o casarão, comenta a
professora. “Ele ficou financeiramente afetado com a crise e vendeu a casa para
o meu sogro, que era o José Nicolielo, um boiadeiro. Meu sogro tinha fazenda de
gado. Ele foi o morador que mais viveu na casa. Nela criou os sete filhos dele.
Ele deixou a casa por herança para um cunhado meu. Eu a comprei e doei para o
meu filho.” O filho da professora mora próximo do Estado do Pará. “Ele é
agropecuarista e vem sempre para cá. Quando vem, fica na casa. Os móveis originais
da casa, o meu cunhado levou embora antes de vendê-la, eram de madeira maciça.
Tinha uma cristaleira maravilhosa. Meu sogro comprou a casa de porteira
fechada, como eles diziam. A família Neme tirou só as roupas de dentro dos
móveis e as louças da cristaleira.”
José Nicolielo comprou a cristaleira vazia, mas não
deixou assim. “Ele foi comprar louças na cidade de Campinas. Encheu a
cristaleira de louças. Essas peças ficaram com meu cunhado. Atualmente o imóvel
está mobiliado. Usei móveis que eram de meu pai que são bons, mas nem tanto
quanto os originais da casa.” Atualmente a casa contém camas de madeira
maciça, coisa rara nos nossos dias. “Eu coloquei sala de jantar, estofados e mobiliei
os quartos. Uma outra parte dos móveis de meu pai levei para a fazenda.”