24 novembro 2024

Anos de chumbo: Vozes negras que a ditadura tentou calar de todas as formas

Lélia Gonzalez era mais que uma voz. Era um grito que atravessa séculos de silenciamento. Filha de empregada doméstica indígena com um trabalhador ferroviário negro, nasceu no coração da desigualdade brasileira em 1935. Negra, mulher e pensadora, sua escrita não era apenas teoria, era corpo que dançava entre a academia e a rua, entre o passado e o futuro. Perseguida, mas nunca silenciada, Gonzalez viveu e resistiu em um Brasil sufocado pela ditadura militar, em que não bastava enfrentar a censura e a repressão: ser mulher, negra e ativista significava lutar em três frentes ao mesmo tempo. Naquele período sombrio, ela não apenas se destacou como intelectual, mas como uma militante incansável. Durante os anos de chumbo, Lélia ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, num ato de coragem que desafiava tanto a ditadura quanto à invisibilização da causa negra nos espaços progressistas. Mais do que contestar o autoritarismo político, Lélia questionava as bases de uma sociedade que marginalizava corpos negros, apontando como o racismo era uma engrenagem silenciosa no projeto de poder do regime. Seu filho, Rubens Rufino, de 63 anos, graduado em economia e diretor-executivo do memorial da mãe, lembra como Lélia, durante sua vida e principalmente durante os anos de chumbo do regime, abriu mão de tudo pelo ativismo com o povo negro.


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