Constrangedor. É pouco. Ridículo, talvez
fosse na medida a palavra para melhor descrever a cena de uma mulher branca,
loura, longe da idade reprodutiva, aos berros, numa performance que simulava o
aborto, no ambiente do Senado Federal, onde a luta que se trava não é sobre o
aborto. É o confronto da política rasteira, sórdida e contaminada pelo
radicalismo neopentecostal.
Os
grunhidos da mulher, que ora era a mãe, ora era o “feto”, nem de longe
reproduzem o que se passa, de verdade, internamente, tanto com a mulher de
classe média que “precisa” abortar, quanto com o “feto”, a quem ninguém nunca
teve ou terá oportunidade de ouvir para saber qual é, de fato, a sua
disposição: desembarcar nesse mundo? Esse, de homens dessa qualidade?
Esse,
onde um deputado faz uso de sua fé e “convicção” religiosa, - num Estado que é
laico -, para chantagear o presidente da República e levá-lo, contra a parede,
a um suposto desmascaramento de sua posição frente a uma decisão que nenhum dos
dois – nem o presidente e tampouco o deputado reaça - terão que tomar um dia:
abortar ou deixar nascer o filho? Tivesse mesmo vida e a capacidade de estar
ali, presenciando a cena grotesca (sim, grotesca!) e certamente ele (o feto)
gritaria: para tudo que eu não desço aqui nem morto!
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