27 maio 2024

Colégios militares: De tortura na ditadura a quartel na democracia

A poucos minutos de carro da Praça dos Três Poderes, onde os palácios não têm grades, um complexo público foge do padrão do célebre arquiteto Oscar Niemeyer em Brasília. Quem passa em volta da área equivalente a 29 campos de futebol logo se depara com arames farpados, um portão construído antes mesmo da entrada principal, dezenas de cones e homens com uniforme camuflado abaixo de letras garrafais: “Colégio Militar de Brasília”. A aparência de quartel se confirma dentro da maior escola do tipo no país, onde três mil crianças e adolescentes são alertados sobre a “vocação para a carreira militar” antes de se tornarem alunos. Os 15 Colégios Militares do Exértico no país ensinam valores conservadores, alinhados à Força, e que exaltam a ditadura militar. Foi na redemocratização, contudo, que essas escolas explodiram pelo Brasil. A ditadura foi além da captação de mão de obra militar e usou um colégio militar como local de interrogatório, prisão e tortura de pessoas acusadas de “subversão”. Quando o Golpe de 1964 se concretizou, o Brasil tinha quatro colégios militares. Além do Rio, havia unidades também em Fortaleza, Belo Horizonte e Porto Alegre, onde os cinco presidentes da ditadura estudaram na juventude. Com a recente mudança da capital para Brasília, o Exército criou o Colégio Militar de Brasília, em 1978. Também abriu uma escola do tipo em Manaus. O de Belo Horizonte teve uma função central para a repressão e funcionou como um centro de tortura, como mostram documentos oficiais do Serviço Nacional de Informações (SNI), no Arquivo Nacional, e da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O colégio foi classificado como “local de torturas em 1969 e 1970” no relatório final da CNV, concluído em 2014. Um dos documentos que baseou a conclusão traz o relato do professor José Antônio Gonçalves, que tinha 24 anos em 1970, quando prestou depoimento aos militares na escola. 

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