Em um intervalo de menos de uma semana em dezembro, o Brasil teve notícia de dois casos explícitos de neonazismo. Em Unaí (MG) e em Curitiba, dois homens se sentiram à vontade o suficiente para aparecer em público com uma suástica presa no braço. A demonstração aberta de apoio ao nazismo — uma ideologia antidemocrática, racista, homofóbica e antissemita — serve como síntese de um período em que casos de intolerância no país ganharam em despudor e violência, em consonância com discursos que os estimulam e "autorizam", segundo advogados e acadêmicos ouvidos pelo UOL. Apesar de diversas manifestações de intolerância serem consideradas crimes, ainda há uma deficiência de dados oficiais, nacionais e recentes sobre o assunto. Isso torna difícil medir o avanço do problema e prejudica a elaboração de políticas públicas para combatê-lo. Mas a falta de estatísticas não atenua o fato de que o segundo semestre de 2019 acumulou notícias de demonstrações abertas de intolerância. Em São Paulo, um homem atirou em um vizinho, e testemunhas afirmam que o criminoso fez insultos homofóbicos antes e depois de disparar. Também na capital paulista, um ator foi agredido por um motorista de ônibus depois de beijar um outro homem dentro do veículo. Na Bienal do Livro do Rio, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) ordenou a apreensão de exemplares de uma história em quadrinhos que mostrava um beijo entre dois rapazes, alegando que se tratava de uma publicação com material impróprio a menores de 18 anos, o que violaria o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). A tentativa de censura foi barrada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Em Bauru (SP), um professor universitário foi chamado de "macaco" e agredido com um canivete. Em plena Câmara Federal, em Brasília, o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu uma charge que denunciava o "genocídio da população negra". O parlamentar disse que a obra era "desnecessária" e representava "um atentado contra os policiais que protegem a sociedade". Os dois casos ocorreram na semana do Dia da Consciência Negra. De volta ao Rio, o grupo que assumiu a autoria do ataque à sede do canal de humor Porta dos Fundos deixou claro, em vídeo, que a motivação do crime era a produção "A primeira tentação de Cristo" (Netflix), em que Deus, Jesus, Maria e José são tratados de forma satírica. Os criminosos também se disseram incumbidos de serem "a espada de Deus" e que o "Brasil é cristão e jamais deixará de ser". Em Florianópolis, uma mulher foi filmada destruindo uma estátua de Iemanjá com golpes de marreta. Na Baixada Fluminense, traficantes de um grupo chamado "Bonde de Jesus" foram presos depois de ataques a terreiros de umbanda e candomblé. (UOL)
Reginaldo Monteiro

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