17 novembro 2019

NATURALIZAÇÃO DA MENTIRA: A Terra é plana e a ditadura não matou ninguém



Ao negar que houve tortura, ofender familiares das vítimas e intervir na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Bolsonaro transforma o fake-revisionismo em marca de seu governo. Levou apenas uma geração. Não mais que 30 anos entre a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988, e a consagração nas urnas, em outubro de 2018, do mais abjeto revisionismo sobre as violações de direitos praticadas pelo Estado entre 1964 e 1985.

Ninguém pode se dizer surpreso. O capitão-em-chefe jamais escondeu o que pensa. Enquanto ridiculariza os dados do INPE, defende o histórico de nepotismo dele e de seus filhos e faz campanha para emplacar o nome do zero-três para a embaixada do Brasil em Washington, Bolsonaro retoma com vigor renovado um de seus passatempos preferidos: homenagear torturadores e ofender suas vítimas.

A fixação de Bolsonaro com o tema é pública e notória. E antiga. Uma década atrás, o então deputado federal fixou na porta de seu gabinete um cartaz com a caricatura de um cão e a frase: “Desaparecidos do Araguaia: quem procura osso é cachorro”. Em 2015, ao ouvir que a jornalista Miriam Leitão havia sido torturada e presa numa cela junto com uma jiboia, afirmou ter ficado com pena da cobra. Em 2016, dedicou seu voto a favor do impeachment à memória do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, a quem chamou de “o pavor de Dilma Rousseff”. No mesmo ano, disse em entrevista a uma rádio que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro voltou a se pronunciar repetidas vezes de forma desrespeitosa em relação à memória das vítimas da ditadura. Sobretudo, pintou e bordou na tentativa de interditar o próprio conceito de ditadura. Às vésperas do aniversário do golpe, em março, instruiu as Forças Armadas a comemorar a data nos quartéis. Por meio do canal oficial da Presidência da República no WhatsApp, divulgou no dia 31 daquele mês um vídeo com a versão de que não houve golpe, mas uma resistência corajosa e patriótica à ameaça comunista, e que o Exército atendeu aos apelos da sociedade e “nos salvou”.

A naturalização da mentira e do fake-revisionismo praticado por Bolsonaro é irmão siamês da naturalização do mal. Acostumar-se com ela é um atentado não apenas contra a democracia ou contra a história, mas contra a humanidade.
Compartilhar:

Outras postagens

0 comments:

Postar um comentário

Copyright © 2025 Blog do Monteiro | Powered by Blogger
Design by SimpleWpThemes | Blogger Theme by NewBloggerThemes.com