Não tragam discursos. Tragam planos.
O recado foi passado pelo secretário-geral da ONU, Antônio Guterres,
aos chefes de estado e de governo que começam a desembarcar nesta segunda-feira
em Nova York. O português sabe muito bem do que fala. Sua entidade vive
provavelmente sua pior crise, em mais de 70 anos de história. E sua recuperação
dependerá da vontade de líderes em trabalhar sobre planos concretos. E não mais
um acúmulo de mentiras, declarações diplomáticas ou apertos de mãos. No fundo,
quando Jair Bolsonaro abrir a Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, ele estará
discursando para uma entidade decadente. O déficit em suas contas, o cinismo
ecoado nos corredores, a manipulação de valores humanistas para que governos
atinjam seus objetivos de poder, a tentativa de acobertar violações sexuais
pelas tropas de paz e a incapacidade de manter a segurança no planeta são
apenas extratos de um profundo mal-estar. Guterres sabe que o palco mundial
está repleto de goteiras, fissuras e vive um clima de dúvidas sobre o futuro da
entidade. Algo parecido ao que se viveu quando o mundo viu o fracasso do plano
da Liga das Nações, há quase cem anos. Por isso, ele precisa de líderes que
tragam para a mesa um plano sobre como trabalhar de forma conjunta em diversas
áreas. De líderes que entendam que fortalecerão a soberania de seus países
justamente ao admitir que, sozinhos, não serão capazes de dar respostas a
desafios que não respeitam fronteiras soberanas. Certamente Bolsonaro recorrerá
ao conceito ao tratar da Amazônia. Mas ele não estará sozinho nesta onda
nacionalista, populista e míope. Outros usarão a mesma palavra para falar de
seu direito de fechar suas fronteiras aos refugiados, para justificar o
protecionismo comercial ou para rejeitar qualquer prestação de contas em
relação às denúncias de execuções de opositores aos regimes. Talvez o
presidente não saiba, mas ele desembarca em uma entidade que usou a imagem
da “Mulher Maravilha” para promover o direito das mulheres e meninas pelo
mundo. A fantasia, porém, não salvou Ágatha. Tampouco salvou Marielle Franco seus
inúmeros alertas sobre os riscos que corriam os defensores de direitos humanos
no Brasil. Bolsonaro, se quiser responder ao apelo internacional, terá de dizer
o que o seu Governo fará de concreto para garantir a verdade sobre crimes, do
presente e do passado. O que fará para ampliar as garantias democráticas e
proteger inclusive seus opositores. Dizer que o Brasil está comprometido com os
povos indígenas, sem dar provas, será ridicularizado diante das poucas palavras
de Raoni, indicado para o prêmio Nobel da Paz e para o prêmio Sakharov.
23 setembro 2019
Reginaldo Monteiro
Administrador do Blog
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