Caminhões passam o dia tirando terra de um terreno de 29 mil m²
– o equivalente a três campos de futebol – na marginal Tietê, uma das
principais artérias do trânsito de São Paulo. As dimensões da obra lembram a
construção de um estádio de futebol, mas trata-se de mais um templo religioso
de grandes dimensões na capital paulista. O Templo da Graça, da Igreja
Internacional da Graça de Deus, no Bom Retiro (na região central), terá
capacidade para 10 mil pessoas sentadas, a mesma do Templo de Salomão, inaugurado
pela igreja Universal em 2014 no Brás, também no centro. A igreja da Graça é
liderada por Romildo Ribeiro Soares, conhecido como Missionário RR Soares, e
cunhado do bispo Edir Macedo – líder da Universal. "Vamos fazer uma
coisa bonita, para a glória de Deus", disse RR Soares durante um programa
no qual anunciou o início da megaobra. O lançamento da pedra fundamental da
construção contou com a presença de figuras importantes da igreja e políticos,
como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). O Estado de
São Paulo já tem ao menos outras cinco megaconstruções religiosas como o
santuário católico Theotokos – Mãe de Deus, idealizado pelo padre Marcelo Rossi
e projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, com capacidade para até 100 mil pessoas
em Interlagos (zona sul) – e a Cidade da Glória de Deus, em Guarulhos (Grande
SP), que comporta até 150 mil fiéis. "O catolicismo fez isso durante
milênios, com a basílica de São Pedro, o barroco. Os evangélicos do século 21
estão aprendendo com os católicos porque viram que aquela foi uma experiência
mais bem-sucedida. Outros exemplos disso são a Marcha para Cristo, imitando as
procissões", disse. Para o professor de pós-graduação em ciências da
religião no Mackenzie, Rodrigo Franklin, essas obras demonstram uma
mercantilização da fé.
(Último Segundo)