A decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar o
pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff foi interpretada por
analistas americanos como "atitude vingativa" e última opção para
tentar tirar a atenção das denúncias de corrupção que ameaçam o cargo e o
mandato do deputado. "É quase certo que ele está de saída, então é uma
atitude muito vingativa da parte de Cunha. E que irá gerar muita confusão pelos
próximos meses no país", disse à BBC Brasil o cientista político Matthew
Taylor, professor da American University, em Washington, e co-editor do
livro Corrupção e Democracia no Brasil. "Cunha e Dilma vinham há meses
em um tipo muito estranho de teatro kabuki (forma de teatro japonês conhecida
pela estilização do drama), em que Cunha usava (a ameaça de) impeachment para
enfrentar o governo e o governo ameaçava uma investigação ética, mas não fazia
muito para levar isso adiante. Ambas as partes tinham bons motivos para
ameaçar, mas não para agir", analisa. "A gota d'água foi, obviamente, o voto
dos três deputados do PT no Conselho de Ética da Câmara", afirma Taylor
sobre a decisão da bancada do PT de votar pela continuidade do processo de
cassação contra Cunha, que é acusado de mentir sobre a existência de contas
bancárias na Suíça. Para o cientista político Riordan Roett, diretor do
programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, em
Washington, o deputado parece ter se sentido "encurralado" e agora
usa o impeachment para "distrair colegas na Câmara para que não o removam
da presidência da Casa e, possivelmente, do Congresso". "Cunha estava
contra a parede, e sua única opção era tentar distrair a Câmara de seus
problemas e agir pelo impeachment", afirmou Roett. O presidente
emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, Peter Hakim,
disse à BBC Brasil que o fato de Cunha enfrentar acusações de corrupção afeta a
legitimidade do pedido de impeachment.
(BBC Brasil)