A competição consiste em correr, correr, correr, equilibrando sobre os
ombros uma tora que equivale ao peso de um adulto fortinho. A corrida de tora
foi uma das que mais despertou curiosidade nos Jogos Mundiais dos Povos
Indígenas em Palmas (TO), já a partir da cerimônia de abertura, onde as
mulheres da etnia gavião, que vivem em reserva indígena no sudeste do Pará,
apresentaram a técnica pela qual são consagradas. Tuxati Jakankrati, líder das
mulheres da delegação, diz que a tora usada por seu povo é de coco e chega a
pesar 80 quilos. A carregada pelos homens pode pesar até 120 quilos. Ela conta
que a corrida é praticada em períodos de festas, e há toras de tipos de
tamanhos diferentes para marcar cada festividade. Mas há também um componente
competitivo, com grupos diferentes da etnia gavião concorrendo entre si pelo
título de vencedor. Segundo Tuxati, as mulheres começam a praticar a atividade
ainda pequenas, indo atrás das adultas, incentivadas pelas mães – e a prática
ajuda as meninas a "criar corpo de mulher" e se fortalecerem. "Eu
mesmo não sei nem explicar a sensação, porque quem ama e gosta de sua cultura
não cansa, não sente raiva da sua cultura, só prazer de mostrar e manter
viva", diz. Tuxati afirma ter ficado feliz em apresentar esta tradição ao
mundo nos Jogos Indígenas. "Mas isso não quer dizer que a gente está
apoiando coisa de branco não", esclarece. Ela participou dos protestos
realizados durante os jogos contra a primeira aprovação no Congresso do projeto
de emenda constitucional que propõe alterar o processo de demarcação de terras
indígenas, a PEC 215.
{Último Segundo)