O relacionamento acabou, mas o ciúme, não. A soma desses dois fatores
foi usada como justificativa por Anderson Rodrigues Leitão para o assassinato
da dançarina Ana Carolina Vieira, encontrada morta nesta semana no apartamento
em que morava, em São Paulo. Ex-bailarina do grupo "Aviões do Forró",
Ana pretendia retornar aos palcos, mas teve sua jornada encurtada, aos 30 anos
de idade, pelo descontrole do ex-namorado. Casos como o de Ana Carolina são
comuns no Brasil, país que ocupa a sétima posição num ranking que lista as 84
nações com maior taxa de homicídios femininos. E os episódios de violência –
terminem eles em morte ou não – estão acontecendo cada vez mais cedo na
vida das mulheres. Segundo levantamento realizado desde junho do ano passado
pelo Núcleo Especializado de Promoção dos Direitos da Mulher (Nudem) da
Defensoria Pública de São Paulo, as brasileiras se tornam vítimas da violência,
em média, já aos 19 anos. "A violência atinge a todas. Os números que
ainda nem começamos a tabular já mostram que cada vez mais jovens têm
relatado casos desse tipo já no primeiro relacionamento. É uma situação que
atinge mulheres de todas etnias, orientação sexual, religião e grau de
instrução", conta Ana Rita Souza Prata, defensora pública coordenadora do
Nudem. De acordo com o Mapa da Violência 2012, pesquisa considerada referência
na discussão do feminicídio, uma mulher é morta em condições violentas a cada
duas horas no Brasil. Já estudo divulgado este ano pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) indica que esse índice pode ter caído até 10% desde a
criação da Lei Maria da Penha (legislação que ganhou reforço em março deste
ano, com o sancionamento da Lei do Feminicídio). Ana Rita, no entanto, afirma
não ter percebido em seu trabalho a redução apontada pela pesquisa do Ipea.
Somente na capital paulista, 13 mulheres chegam diariamente ao prédio
da Defensoria Pública do Estado alegando ter passado por alguma situação
de violência. "Minha percepção é de que esse tipo de casos vem aumentando.
Cerca de 40% dos casos que vão a júri em São Paulo estão relacionados às
questões de gênero", declara a defensora, explicando que os casos que vão
a júri são aqueles em que há a ocorrência de crime contra a vida.
(IG)