Pode um morto dar entrada em sua própria certidão de óbito, depois disso
ter um filho e ainda comemorar o aniversário dele? Não até que a ciência prove
o contrário ou até que algum documento do morto-vivo seja alterado. Foi
exatamente o que aconteceu com a secretária Renata Almeida Pereira, de 36 anos.
Para fins burocráticos, ela está morta. Renata descobriu a notícia da pior
forma possível: ao tentar sacar uma indenização e ser bloqueada pelo banco. O
começo da história data de 8 de janeiro de 2013 quando Renata cuidou do
sepultamento da avó de nome Áurea Teixeira de Almeida. O cartório errou o
registro e colocou o nome e o CPF da secretária no atestado de óbito. Renata
pediu a mudança e achou que foi atendida. De fato, seu nome não está mais no
Sistema Informatizado de Controle de Óbitos (Sisob), mas seu CPF ainda está lá.
O erro transformou a vida de Renata num inferno burocrático. O mais difícil foi
provar que está viva para o Banco do Brasil. Foram várias idas e vindas às
agências bancárias para conseguir receber R$ 2,9 mil de um processo que moveu
contra uma empresa de plano de saúde. “Foi um choque. É um absurdo isso. Vi
esse erro ainda no cemitério. Na época, o agente responsável pelo atestado de
óbito disse que havia feito as correções e trouxe o documento com o nome da
minha avó”, lembra. “Para mim estava tudo resolvido. Era uma hora muito difícil
para mim e ainda tendo que resolver questões burocráticas. Tenho três filhos,
meu marido está desempregado e preciso muito de dinheiro.” Renata conseguiu
receber a indenização, mas sabe que o calvário ainda não acabou. “Me informaram
que meu CPF estava no Sisob desde fevereiro de 2013, ou seja, eu estou morta
desde aquela época. Isso tudo está sendo um transtorno para mim”, lamentou ela.
(Último Segundo)