01 setembro 2015

EDITORIAL: A triste cultura do “não vai dar em nada”

Embora os resultados da Operação Lava Jato sejam extremamente positivos, não apenas para esclarecer escândalos que envolvem recursos e servidores públicos, autoridades, mandatários, empresários e pessoas influentes de diversas esferas da iniciativa privada e punir responsáveis, paira no ar um raciocínio bem típico do brasileiro: o descrédito. Isso porque muitos patrícios não veem a justiça prosperar da forma como entendem que deveria. Ser alguém de "alta patente" no âmbito da política, notória ou rica, ajuda a dificultar uma eventual punição. Essas três "qualidades" quando juntas então, dificultam ainda mais.

A cultura do “não vai dar em nada” que o cidadão comum adquiriu, vem da sensação coletiva de impunidade para determinados tipos de crimes, especialmente os que envolvem autoridades e políticos, que infelizmente encontra embasamento nos fatos em si. O simples mortal sabe que o desvio de conduta ou o crime existiu, é verdadeiro. Mas duvida da atuação das instituições responsáveis por investigar, denunciar e punir. 

Temos pelos quadrantes do País, exemplos notórios de gente tida importante, de alta envergadura, que transita para lá e para cá atirando nas nossas caras o seu cinismo. Em todos os níveis da política ou da sociedade brasileiras essa fato é perceptível. Por isso que quem entra em esquemas de corrupção, sejam os mais graduados, sejam os “peixes pequenos”, praticam com a nítida certeza de que, uma vez pegos, “não vai dar em nada”.

Muitos tripudiam sobre promotores, juízes, desembargadores, ministros de tribunais. Grupos que, aliás, formam uma casta que não dispensa, por vezes, um tratamento exagerado ou pomposo com influentes da política, por exemplo, e às vezes sequer resistem às tentações da propina e da corrupção, como tem noticiado a imprensa.

O tema é sério. Não dá para aceitar que o Brasil seja apenas o país do futebol, da novela, do carnaval, do levar vantagem em tudo, do rouba mas faz, do estupra mas não mata, que de tão repetidos são aceitos por considerável parcela de nossa sociedade. Isso é muito pouco para um povo cada vez mais afastado da atenção pública que a ele deveria ser dedicada. 

Lembremo-nos, ainda há muito que conquistar. Ou viramos a mesa, ou estaremos fadados a continuar esperando, mansamente, pelo que não vai dar em nada.

Reginaldo Monteiro
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