Embora
os resultados da Operação Lava Jato sejam extremamente positivos, não apenas
para esclarecer escândalos que envolvem recursos e servidores públicos, autoridades, mandatários, empresários e pessoas influentes de diversas esferas da iniciativa privada e punir responsáveis, paira no ar um raciocínio bem típico do brasileiro: o descrédito. Isso
porque muitos patrícios não veem a justiça prosperar da forma como entendem que
deveria. Ser alguém de "alta patente" no âmbito da
política, notória ou rica, ajuda a dificultar uma eventual punição. Essas três "qualidades" quando juntas então, dificultam ainda mais.
A
cultura do “não vai dar em nada” que o cidadão comum adquiriu, vem da sensação
coletiva de impunidade para determinados tipos de crimes, especialmente os que
envolvem autoridades e políticos, que infelizmente encontra embasamento nos
fatos em si. O simples mortal sabe que o desvio de conduta ou o crime existiu,
é verdadeiro. Mas duvida da atuação das instituições responsáveis por
investigar, denunciar e punir.
Temos pelos quadrantes do País, exemplos
notórios de gente tida importante, de alta envergadura, que transita para lá e
para cá atirando nas nossas caras o seu cinismo. Em todos os níveis da política
ou da sociedade brasileiras essa fato é perceptível. Por isso que quem entra em
esquemas de corrupção, sejam os mais graduados, sejam os “peixes pequenos”,
praticam com a nítida certeza de que, uma vez pegos, “não vai dar em nada”.
Muitos
tripudiam sobre promotores, juízes, desembargadores, ministros de tribunais.
Grupos que, aliás, formam uma casta que não dispensa, por vezes, um tratamento
exagerado ou pomposo com influentes da política, por exemplo, e às vezes sequer
resistem às tentações da propina e da corrupção, como tem noticiado a imprensa.
O tema
é sério. Não dá para aceitar que o Brasil seja apenas o país do futebol, da
novela, do carnaval, do levar vantagem em tudo, do rouba mas faz, do estupra
mas não mata, que de tão repetidos são aceitos por considerável parcela de
nossa sociedade. Isso é muito pouco para um povo cada vez mais afastado da atenção pública que a ele deveria ser dedicada.
Lembremo-nos, ainda há muito que conquistar. Ou viramos a mesa, ou estaremos
fadados a continuar esperando, mansamente, pelo que não vai dar em nada.
Reginaldo Monteiro