06 setembro 2015

ARTIGO: Faltou transparência e diálogo

Não podemos e nem devemos agir como se fossemos cegos, surdos e mudos, diante de determinados episódios que envolvem o Poder Executivo (Prefeitura), o Poder Legislativo (Câmara) e os interesses do município de Pederneiras e de seu povo. A impressão que dá, é de que tratam a cidadania com total desprezo, uma vez que não querem escutar o que ninguém mais tem a dizer, além deles próprios. Então, devemos mesmo endurecer o tom. Afinal, não somos idiotas.

Em 2011, a então prefeita Ivana Camarinha (PV) encaminhou à Câmara Municipal - que aprovou -, pedido de autorização para que o Município instituísse juntamente com outros da região, a Fundação Estatal Regional de Saúde, de origem pública, porém, de direito privado. Tal entidade possui, dentre outras, a responsabilidade de desenvolver ações e serviços de saúde. Um tema de amplitude, que pela simploriedade como foi tratado passou despercebido, ficando apenas no âmbito da administração e da edilidade. Sequer uma audiência pública ou consulta à população foi levada a efeito. Tudo muito fácil, que sem qualquer objeção ou questionamento transformou-se em lei.

No último dia 31, foi aprovado em sessão do legislativo local projeto da lavra do prefeito Daniel Camargo (PSB), que autoriza a administração a ceder servidores municipais efetivos à entidade. Isso fechou o cerco em torno do que Ivana e Daniel pretendem. Uma reunião entre a secretária de saúde municipal e os vereadores, “esclareceu” o intuito da coisa. Mas entre quatro paredes, a portas fechadas? Por que não pública? Estariam o executivo e o legislativo - 10 pessoas apenas -, credenciados a decidir assim algo tão complexo, sem ao menos informar aos servidores – alguns dos quais poderão ser cedidos – sobre o que realmente se trata?

O vereador Mauro Soldado resistiu bravamente, mostrando a necessidade que havia de tornar transparente (público) todo o plano, inclusive por que a proposta mencionava um convênio futuro, sem que de suas bases a vereança tomasse conhecimento prévio. Mauro requereu o adiamento da discussão. No entanto, os vereadores governistas, com a ajuda de escorregão feio do lado da oposição, romperam a corda. O afogadilho aprovou o projeto que, pelo que dele consta, o servidor poderá ser cedido pelo prazo de até cinco anos e deverá abrir mão de todos os direitos e vantagens do emprego permanente na municipalidade, uma vez que a cessão transferirá à entidade a responsabilidade pelo pagamento do salário, direitos e vantagens relacionados ao cargo que ele ocupará, incluindo as obrigações previdenciárias e trabalhistas, além de possibilitar à Prefeitura fugir das amarras da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita gastos com pessoal.

É bom lembrar que a vontade do povo é que confere legitimidade à norma, à lei, ao ato, à política pública. Legalidade formal é tão somente o preenchimento dos requisitos organizacionais na sua feitura. Não vamos então, confundir legalidade com legitimidade. Apenas no momento em que houver coincidência, identificação derivada da vontade popular é que haverá norma justa. Fora disso, será absoluta falta de transparência e de diálogo com quem realmente possui o poder (o povo).

Tomara que o executivo e o legislativo locais não estejam se afastando perigosamente do dever da precaução, da responsabilidade para com a população. De promessas, estamos repletos delas. Falácias então são ilusões ou, no máximo, idéias.

Reginaldo Monteiro

(Publicado no jornal “Pedra de Fago”, edição de 5/9/2015)
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