Em pleno século 21, é difícil aceitar que ainda exista trabalho escravo
no Brasil. Durante dez anos, uma mulher esteve à frente do grupo de
fiscalização do Ministério do Trabalho, que libertou 50 mil pessoas da
escravidão. Ela arriscou a vida enfrentando jagunços e pistoleiros e registrou
tudo em fotos e vídeos inéditos. É o retrato assustador da violência no campo -
um Brasil que dá vergonha, em que homens, mulheres e até crianças são
submetidos a trabalhos forçados, sem ganhar um tostão. “Liberdade é você poder
andar tranquila por aí. Isso é liberdade”, Marinalva Dantas, auditora fiscal. Por
amar ser livre, Marinalva decidiu dedicar a vida à liberdade dos outros. “Não
existe nenhuma pessoa que mereça ser insultada, humilhada, ofendida, agredida
física ou moralmente”, diz Marinalva. Durante dez anos, ela se embrenhou nos
confins do Brasil para combater insultos e humilhações. “Mesmo sabendo que está
sendo escravizado, a gente continua ali”, conta um trabalhador. “Ele entrou lá dentro, pegou um facão, cortou
aqui, e deu três pontas de facão aqui no meio das costas”, conta outro
trabalhador. Para enfrentar jagunços e pistoleiros e tirar da sombra um país
injusto e violento. “Existia, de fato, um corpo, restos mortais de um ser
humano aqui dentro, um trabalhador”, diz Marinalva em um vídeo. Marinalva
Cardoso Dantas é admirada no exterior até por quem já ganhou o prêmio Nobel da
Paz, como o indiano Kailash Satyarthi, que combate o trabalho infantil em seu
país. “Se a Marinalva fosse paquistanesa ou afegã, e fizesse exatamente tudo o
que ela fez até hoje, ela teria sido indicada”, destaca Klester Cavalcanti,
escritor.
(O Globo)