Fundamentados inicialmente na delação premiada, os 50 inquéritos
que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e têm políticos como alvos estão
sendo robustecidos pela Polícia Federal para fortalecer a Operação Lava Jato e
permitir que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente as
denúncias. Embora possam ser consideradas como provas testemunhais, as
informações prestadas pelos dois principais delatores, o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef,
representam indícios que precisam ser confirmados por novos métodos de
investigação policial. Cada delação transcrita para servir de base à
instauração de inquéritos foi registrada em áudio e vídeo, mas deve ser
confirmada e reforçada por outros indícios que se contraponham a enxurrada de
recursos que certamente serão apresentados nos tribunais superiores – STF e
Superior Tribunal de Justiça – por advogados de políticos e de empreiteiros. Um
grupo de advogados, coordenados pelo ex-ministro da Justiça e do STF, Nelson
Jobim – que sucedeu o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, falecido em dezembro do
ano passado – esmiúça cada detalhe dos depoimentos prestados pelos delatores em
busca de falhas ou contradições. Também analisam com lupa declarações de
procuradores – responsáveis pelos contratos de delação – para encontrar falhas
ou contradições que sirvam para eventuais pedidos de anulação das investigações
ou de parte delas. Dois detalhes na mira da defesa são as prisões dos
empreiteiros – consideradas pelos advogados como excessivas como meio para
obter provas ou promover novas delações – e uma declaração dada há poucos dias
ao jornal Folha de S. Paulo pelo procurador Carlos Fernando Lima, um dos homens
de linha de frente da força tarefa paranaense, admitindo que o MPF blefou para
forçar suspeitos e aceitar contratos de delação. Nos bastidores da
investigação, a revelação de Lima foi interpretada como ingênua, anti-produtiva
e uma brecha que a defesa dos acusados pode usar.
(IG)