23 março 2015

FIES: 'Não adianta entrar na faculdade em curso de baixa qualidade'

A rápida passagem do ex-ministro da Educação Cid Gomes foi marcada por problemas e polêmicas sobre o Fies (programa federal de financiamento estudantil). De um lado, o ministério criou novas regras para a obtenção de crédito, como o mínimo de 450 pontos no Enem, e a garantia de atendimento apenas para instituições com nota alta em avaliações do MEC. De outro, os problemas na comunicação e o atraso no calendário levaram estudantes a pagar matrícula e mensalidades sem saber das novas regras. Na última semana, a presidente Dilma Rousseff chegou a admitir que o governo errou com o Fies e, por isso, precisou mudá-lo. Para João Ferreira de Oliveira, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, o governo tem dificuldades em melhorar os critérios de qualidade do programa por pressão do ensino privado. Do ponto de vista dos estudantes, o coordenador do grupo de pesquisas sobre Expansão do Ensino Superior e Produção do Conhecimento diz que "não adianta entrar no setor privado em um curso de baixa qualidade. A pessoa porque é pobre tem que fazer um curso ruim?". O grande debate é a questão do público e do privado, de como usar o recurso público para expandir o ensino público e o privado. A questão de fundo é se o Estado deve usar sua renda para expandir [a rede privada] ou só sua rede federal. O que a gente tem visto do governo Lula para cá é uma forte expansão da rede privada, mas também houve grande expansão de educação pública. O sistema, no entanto, mantêm os patamares de matrículas de 75% do ensino superior no setor privado e 25% no setor público que vinham do governo do Fernando Henrique Cardoso. Muitas dessas matrículas no setor privado têm se mantido com dinheiro do ProUni e do Fies. Estatísticas mostram que 40% das matrículas do setor privada são mantidas dessa maneira. Estamos vivendo uma situação que é bastante complexa porque, como o governo ampliou enormemente os recursos para o financiamento em instituições privadas, ele agora está sofrendo as pressões do próprio setor privado quando tenta aperfeiçoar as regras. E ainda temos uma meta de duplicar as matrículas do ensino superior até 2024.
(Último Segundo)
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