02 fevereiro 2015

CRÔNICA: Não basta apenas o buquê do vinho ou o do café

Estou envelhecendo. Estamos, não? E compreendo, cada vez com mais clareza, quando alguém diz “a sabedoria do tempo”. Não é o tempo que se torna sábio, mas é o próprio que nos concede a oportunidade de nos tornarmos sábios, aprendendo a acompanhar a vida a passos mais largos, sem dar urgências como desculpa, apreciando paisagens e não apenas o buquê do vinho ou o do café. Porque às vezes é preciso nos debruçarmos na janela do tempo e percebê-lo passando ao som do silêncio, prestando atenção no que, no afã da correria cotidiana, permitimos passar despercebido.

Há quem creia que estamos morrendo a cada dia, mas prefiro pensar que estamos nos construindo a cada dia, colocando mais um tijolo, instalando abajures, pintando paredes, criando jardins secretos, alimentando sonhos. E aprendendo a realidade do respeito, que não é apenas dedicado aos que conhecemos, mas também aos que julgamos estranhos, mas que, na verdade, são parte de quem somos.

Escutei de uma criança uma teoria sombria sobre como o mundo está sendo assassinado. Enquanto ela falava, arregalava os olhos e me vendia – usando e abusando da sua condição, de quem não deveria se preocupar com essas coisas – a ideia de que temos de cuidar do planeta, senão a água acabará. E o que a gente vai fazer? “A gente vai morrer de sede! A gente vai morrer!”

A gente vai morrer. Eu sei!
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