01 fevereiro 2013

Tragédia em Santa Maria esvazia casas noturnas em São Paulo


Jovens em busca de curtição costumam formar filas enormes nas quartas-feiras à noite, em torno das 23h, para entrar em casas sertanejas do circuito Vila Olímpia, em São Paulo. Três dias após o incêndio que matou mais de 230 pessoas na boate Kiss , em Santa Maria, Rio Grande do Sul, não foi o que aconteceu. Na última quarta (30), a aglomeração de pessoas em frente a uma delas era praticamente inexistente. 
Os frequentadores das baladas que não mudaram suas rotinas acreditam que a redução do público esteja relacionada ao medo de uma tragédia se repetir em outros locais. “Acho que várias pessoas deixaram de sair por isso. É só olhar ao redor. Normalmente é lotado a essa hora. Quarta-feira passada, por exemplo, havia quarteirões de fila. Pensamos em sair mais cedo, nos arrumamos rápido pra chegar aqui e... Como assim? Só a gente está aqui?”, afirmou Mariana Fortunato da Silva, de 21 anos. A estudante se reuniu com mais três amigas para curtir a noite e, vendo a fila vazia, ainda brincou: “Dá até um pouco de vergonha de só ter a gente aqui”.
Piada 
Pouco mais à frente das meninas, um grupo de três rapazes esperava o melhor momento para entrar na casa. A primeira reação deles foi procurar a saída de emergência. “Mas não é preocupação, é precaução”, explicou Emerson Fernando. O bancário também contou que, ainda na fila, o acidente ocorrido na Kiss era o assunto. “A história já virou até piada aqui. O cara tava fumando e a menina falou: ‘não vai fumar dentro da casa, que vai pegar fogo’”.

Já na fila de outra balada da região, o tema da conversa era outro – se a casa tinha ou não alvará de funcionamento liberado pela Prefeitura de São Paulo. Sim, aquela tinha. E, exatamente por isso, foi a eleita pelas amigas Renata e Carla para aquela noite. Antes de entrar, Renata contou que não teve receio de sair de casa, mas pensou na infraestrutura da balada antes de seguir para o local. “Não deu medo, mas criou uma mentalidade nas pessoas de ficarem mais preocupadas com essa questão de segurança. Eu nunca tinha pensado, por exemplo, em prestar atenção na saída de emergência”, concluiu.
Vinícius Ferreira
Poucas pessoas foram para a balada na quarta-feira no bairro Vila Olímpia, em São Paulo
Preocupações e esquecimento 
Os amigos Marlon Moura, 22 anos, e Renato Gonçalves, 23, acreditam que o incêndio provocou uma reação positiva, a de aumentar a fiscalização nas casas noturnas. “Tudo no Brasil só muda após coisas acontecerem”, afirmou Marlon. O músico ainda completou que só há essa movimentação porque houve muitas mortes. “Quando morre um ou dois, ninguém se preocupa”.

Além de apoiar o colega e defender uma maior fiscalização, Renato contou que sentiu medo ao saber das mortes. Por um motivo em especial: “Gosto de ficar na beira do palco pra curtir o som. Se eu estivesse naquela balada, eu não conseguiria sair. Isso acaba mexendo com você”.
(IG)

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