03 abril 2012

RJ: 'Dinossauros' aceleram extinção de boias-frias


Ailton Santos dorme há vinte e cinco minutos sob a sombra de um ônibus. A sensação térmica, agravada pela ausência total de ventos, beira os cinquenta graus. O sol indica que passa um pouco de meio-dia. No canavial da fazenda Boa Vista, em Campos dos Goytacazes, norte fluminense, não há outra sombra que não seja aquela. O homem de 43 anos, que aparenta pelo menos uma década a mais, desperta com o barulho da máquina fotográfica. Perguntado sobre o que estava sonhando, Ailton se apresenta e diz: “Aqui a gente não sonha, não. É só pesadelo mesmo”.


“Um equipamento de pequeno porte é capaz de substituir cinquenta cortadores de cana. Uma de grande porte faz o trabalho de 100 a 150 trabalhadores, sendo capaz de cortar quinhentas toneladas de cana por dia”, contabiliza Eduardo Crespo, secretário de Agricultura de Campos e presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan). O investimento é alto.

“A vida aqui já foi mais cruel, agora até que está melhor. O importante é ter trabalho, sabe?”, conforma-se Lucia, mãe de três filhos. “Nunca parei para pensar em fazer outra coisa. Trabalho nunca nos faltou no campo. Se amanhã não me chamarem mais, vou ter que pensar na questão”, continua o marido. Mais à frente, Márcia Silva Valéria, de 39 anos, também mãe de três filhos, semeia cana com o colega Romilson Julião, que diz não saber a própria idade, mas aparenta mais de 60. “Se não tiver mais trabalho, vou catar latinha na rua”, planeja a mulher. “E eu vou junto. Cato papelão”, emenda Romilson.
(IG)
Compartilhar:

Outras postagens

0 comments:

Postar um comentário

Copyright © 2025 Blog do Monteiro | Powered by Blogger
Design by SimpleWpThemes | Blogger Theme by NewBloggerThemes.com