Fabio Motta/AE
Estátua do compositor campineiro na Cinelândia, Rio de Janeiro (20/01/2010)
Caiu como uma granada nas cabecinhas da tradicional opinião pública cultural brasileira o artigo Carlos Gomes Versus Villa-Lobos, de Oswald de Andrade, publicado no Jornal do Commercio em 12 de fevereiro, véspera da primeira noite da Semana de Arte Moderna de 22. Sua alma de polemista passou como trator em cima da primeira glória da música brasileira. “Carlos Gomes é horrível. Todos nós o sentimos desde pequeninos. Mas como se trata de uma glória da família, engolimos a cantarolice toda do Guarani e do Schiavo, inexpressiva, nefanda. E quando nos falam no absorvente gênio de Campinas, temos um sorriso de alçapão assim como quem diz: - É verdade! Antes não tivesse escrito nada... Um talento.”
Há 90 anos, este é o texto mais citado sobre Carlos Gomes. Seu subtexto, de que o compositor era mais italiano do que brasileiro, escrevera música italiana, etc., etc., vem sendo repetido como mantra. A glória imensa que teve em vida transformou-se, a partir do modernismo, num calvário que ainda não terminou. Ele não só foi vítima preferencial dos modernistas como esta ótica deformante tem historicamente impedido o pleno conhecimento de sua obra.
Por isso, sua música é subavaliada e menos conhecida até hoje porque a ótica modernista transformou música e músicos brasileiros do século 19 em lixo descartável, com ressalvas só em relação a compositores que representaram o pré-modernismo, ou seja, serviram de “escada” para o nacionalismo em sua escrita (caso de Alberto Nepomuceno, por exemplo). O autor do Guarany virou símbolo de tudo que era passado.
Por isso, sua música é subavaliada e menos conhecida até hoje porque a ótica modernista transformou música e músicos brasileiros do século 19 em lixo descartável, com ressalvas só em relação a compositores que representaram o pré-modernismo, ou seja, serviram de “escada” para o nacionalismo em sua escrita (caso de Alberto Nepomuceno, por exemplo). O autor do Guarany virou símbolo de tudo que era passado.
Encarnava simbolicamente o passado cultural brasileiro, porque havia recebido demasiados elogios dos literatos e intelectuais em geral de seu tempo. Portanto, era o nome mais importante a ser desconstruído pelos participantes da Semana de Arte Moderna. Nem a atitude inicialmente negativa que aos poucos se transformou em altamente positiva de Mário de Andrade em relação ao compositor conseguiu consertar o estrago de 22.
Este é o universo conceitual no qual se move o maestro Lutero Rodrigues em seu livroCarlos Gomes - Um Tema em Questão, que leva o subtítulo A Ótica Modernista e a Visão de Mário de Andrade (Editora Unesp). Ele faz um minucioso estudo de imagem pública e recepção crítica de Carlos Gomes entre 1870 e 1945 (data da morte de Mário de Andrade). São três longos capítulos e cerca de 150 páginas dedicadas apenas às análises dos escritos de Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Renato de Almeida e de Mário sobre o compositor.
(Fonte: Estadão)
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