
Ser pagão sempre nos chegou aos ouvidos como algo satânico.
Ainda crianças, aceitamos as 'verdades' irrefutavelmente como absolutas.
Vários são os fatores que nos levam a isso. Dentre eles, o fato de virem, em sua maioria, de nossos pais e professores - mestres da 'verdade construída e adquirida'; a nossa própria imaturidade cultural e crítica e a tendência ao religioso imposta a nós como freio aos impulsos da independência física, moral e intelectual.
* SEMÂNTICA
Diante de tantos impasses fantasiosos, o temor ao termo 'pagão' adveio de inúmeros interesses, menos da realidade semântica - pura e simplesmente - a que está enquadrado como milhares de outros termos derivados do latim.
O latim e o grego mesclavam-se enormemente numa sociedade Romana helenizada.
Por isso, a palavra PAGANE mesmo sendo grega não diverge da sua versão em latim PAGANUS por tratarem-se de línguas contemporâneas. Veja:
A palavra 'pagão' era adotada na antiguidade politeísta durante o Imperio Romano para denominar os camponeses que viviam fora dos muros das cidades. Aqui, 'pagão' oriunda do grego PAGANE.
Já 'pagão' vindo do latim torna-se PAGANUS, que significa 'habitante do campo', 'rústico'. Mas o termo é usado pelo cristianismo para designar pessoa ou povos não cristianizados.
PAGANUS ou PAGANE, sendo aquele que habitava o campo, deu origem ao termo 'pagão' em oposição a 'cristão', pois o Cristianismo, primeiro, conquistou as cidades e só depois o interior.
Então, residindo longe dos limites da cidade, o 'pagão' era o habitante da aldeia, o aldeão camponês.
Inicialmente, ficavam sem receber o batismo - pois só quem morava na cidade tinha acesso às cerimônias. Apenas bem mais tarde é que seriam batizados.
Então, ficou a oposição semântica: cristão batizado versus aquele pagão do interior não batizado.
* COSTUMES

Sendo a humanidade muito anterior a qualquer espécie de religião instituída, óbviamente que as comunidade pré-cristãs possuíam suas crenças. A maioria delas ligadas intimamente à Natureza e seus atributos (animista). Nos bosques, florestas e clareiras aconteciam seus rituais de gratidão e ofertas aos deuses, a uma Fonte de Vida ou à díade deus e deusa - masculino e feminino. Tais ritos se davam através da harmonia entre as mudanças das estações do ano. Por isso, ocorrem nos Equinócios, Solstícios e nos Pináculos e nas fases da Lua e do Sol.
As crianças eram amadas e protegidas e as mulheres veneradas pela capacidades inerentes de gerar e intuir e por dominarem a manipulação das forças da Natureza.
Conforme se pregava no Egito antigo, assim fazem os 'pagãos': buscam compreender 'o que está acima' - seus deuses ou sua Fonte - conhecendo e respeitando 'o que está abaixo' - a Natureza e seus semelhantes.
* COMBATE AOS COSTUMES
Para falar sobre os combates - político e religioso - sofrido pelos 'pagãos', cito o exemplo celta, por mim aprendido desde pequena. Mas não posso deixar de citar os demais povos perseguidos como 'pagãos' dentre eles os germânicos (Europa Setentrional - terra dos elfos, Valhala, Thor, vikings, valkírias, runas), os anglo-saxões (parte de Europa Ocidental; fusão dos ingleses com os gemânicos onde predomina a língua inglesa original tendo-se extinguido qualquer traço das línguas celtas) e os nórdicos (parte da Europa Setentrional com o Atlântico Norte formada por Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e Estônia. É a chamada Escandinávia. Idioma: filandês. - terra das Cruz Nórdica constante em todas suas bandeiras, vikings, etc) .

O povo celta vivia na Europa Ocidental, mais precisamente na Andorra, Áustria,Bélgica, Dinamarca, Espanha (a noroeste - Galícia - minha terra querida!), Finlândia, França, Irlanda, Islândia, Itália, Liechtenstein, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Países Baixos (Holanda), Portugal, Reino Unido, San Marino, Suécia, Suíça e Vaticano. Ali permaneceram até que a perseguição pelo Império Romano começou, indo alguns formar comunidades em terras mais afastadas como a Irlanda, o que facilitou a perpetuação de algumas culturas originais. Dali - então - para o mundo!
Os celtas introduziram costumes importantes e curiosos, dentre eles o uso de calças compridas para os homens e a metalurgia.
Sob o domínio de Roma, os deuses celtas perderam a originalidade sendo associados à divindades romanas. Com a imposição do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo gradualmente abandonada e alguns celtas acovardados renderam-se ao protestantismo para livrarem-se do 'jugo', salvarem-se e às suas famílias.
Mas as tradições nunca foram totalmente extintas, estando ainda hoje presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no cristianismo.
Atualmente, o cinema também faz relembrar os cultos 'pagãos' através de filmes como Avatar, Senhor do Anéis, Harry Potter, dentre outros. Nas festas populares também estão simbologias celtas como a Páscoa, carnaval, Natal, etc...

Hoje, graças ao acesso democrático às informações e ao amadurecimento da humanidade em relação às crenças impostas, o termo 'paganismo' tem perdido um pouco - e vagarosamente - parte do tom pejorativo que lhe foi imposto. Com isso, as riquezas escondidas e que, comprovadamente, formou grande parte das religiões do mundo, podem brilhar à luz do Sol!
De Helga Mello Nunes para o blog Eclipse
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