O golpismo assoprado
entre alguns colunistas da mídia tradicional, que por sua vez contaram com o
incentivo prévio de políticos dispostos a radicalização, caiu no vazio. Faltou
eco nas ruas e há ressonância no Congresso para as teses rascunhadas por
colunistas como Merval Pereira, de O Globo, e moralistas como o poeta Ferreira
Gullar e o global Arnaldo Jabor. Não houve repercussão positiva à tentativa,
feita por Merval, em texto na terça-feira 18, em O Globo, de elevar à condição
de tema político sério a tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff e do
vice Michel Temer. "Isso não é golpismo", escreveu, candidamente, o
imortal que dera o roteiro para a derrubada da presidente eleita num tapetão
institucional. Antes dele, com um pouco mais de parcimônia, Jabor classificou o
momento atual como igual "a um passado pré-impeachment do Collor".
Uma torcida evidente pela retomada daquela movimentação. Buscando destaque
nesse debate, Gullar registrou no fim de semana a expressão "golpe
democrático", que sabe se lá como pode ser aplicado, uma vez que é golpe,
mas é democrático. À la Paraguai, talvez ela tenha procurado dizer. Esses
posicionamentos se esvaziaram por si mesmos, mas eles foram assoprados, antes,
por chefe políticos como o senador Aloysio Nunes e o ex-governador Alberto
Goldman. Ambos conseguiram ficar isolados no PDSB ao pregar o não diálogo com o
governo que, efetivamente, venceu uma eleição democrática. Goldman chegou a
avaliar que a presidente Dilma "não terá condições de governar". Com
essa expressão de vontade, equiparou-se ao deputado Jair Bolsonaro, que se
elege pregando a negação da democracia por meio da volta dos militares ao
poder. Sem querer, a meia dúzia de pregadores da interrupção no ciclo
democrático prestou um serviço à democracia: ficou provado que ideias
esdrúxulas como as deles não criam o mesmo clima de crise que argumentos muitos
semelhantes conseguiram criar 50 anos atrás, nos idos de 1964. Eles podem não
ter percebido, mas o Brasil de hoje não se deixar enganar e está pronto para
resistir às vivandeiras de plantão.
(brasil247)