Receber a cédula eleitoral do próprio candidato, ser coagido por
capangas de coronéis e até declarar voto publicamente ao juiz eleitoral. O
cenário que hoje parece estarrecedor já foi realidade para os brasileiros, que
percorreram um caminho longo e nada confortável nas eleições até os dias
atuais. As cédulas de papel, existentes desde a época colonial, seguiram pelo
Império e pela República Velha e marcaram pleitos cercados de fraudes. A
contagem dos votos, que tinham de ser transportados de diferentes partes do
País até o Rio de Janeiro, durava meses. O primeiro Código Eleitoral
brasileiro, de 1932, garantiu os principais avanços ao sistema eleitoral. A
partir dele foi garantido o voto secreto, o voto feminino e até o uso de uma
“máquina de votar”, que seria tecnologicamente viável apenas 64 anos depois,
nas eleições de 1996. O primeiro contato do eleitor com a cédula única de
votação, oficialmente impressa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ocorreu
em 1955 para eleições de presidente e vice. Para o historiador Marco Antônio
Villa, autor de obras sobre a história política brasileira, a cédula única foi
um importante avanço porque o eleitor que até então era livre para votar em
qualquer lugar passou a ser obrigado a comparecer à seção eleitoral. A novidade
inibiu o uso de títulos falsos, já que o documento passou a contar com a foto
do eleitor. Villa explica como era votar com a cédula única. “Ele marcava um X
para escolher um candidato ao Executivo. O desafio maior era preencher os nomes
dos candidatos ao Legislativo que não estavam na folha individual”. Por isso, a
linha em branco foi motivo de anulação de votos e deu espaço para manifestações
e protestos.
(Último Segundo)