18 julho 2013

A cidade em progresso

Vinicius de Moraes


A cidade mudou. Partiu para o futuro 
Entre semoventes abstratos 
Transpondo na manhã o imarcescível muro 
Da manhã na asa dos DC-4s 

Comeu colinas, comeu templos, comeu mar 
Fez-se empreiteira de pombais 
De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar 
Pombas paraestatais. 

Alargou os quadris na gravidez urbana 
Teve desejos de cúmulos 
Viu se povoarem seus latifúndios em Copacabana 
De casa, e logo além, de túmulos. 

E sorriu, apesar da arquitetura teuta 
Do bélico Ministério 
Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta 
Dos códices do mistério... 

E com uma indignação quem sabe prematura 
Fez erigir do chão 
Os ritmos da superestrutura 
De Lúcio, Niemeyer e Leão. 

E estendeu ao sol as longas panturrilhas 
De entontecente cor 
Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas 
Filhas do Governador. 

Não cresceu? Cresceu muito! Em grandeza e miséria 
Em graça e disenteria 
Deu franquia especial à doença venérea 
E à alta quinquilharia. 

Tornou-se grande, sórdida, ó cidade 
Do meu amor maior! 
Deixa-me amar-te assim, na claridade 
Vibrante de calor!
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