A liberdade de expressão encontrou no Brasil
entusiastas tão enfáticos e fanáticos que, para defendê-la, tudo vale a pena,
inclusive pôr fim à independência do Judiciário e impedir o funcionamento do
Legislativo. Síntese óbvia: fazer obstrução é coisa corriqueira de
oposicionistas nos Parlamentos democracias afora. Atropelar o funcionamento de
um Poder por intermédio da força é coisa de golpistas. Que fique claro: a
pistolagem em curso do PL no Congresso, a que aderiram setores do PP e do União
Brasil, é só o golpe por outros meios. Parece que os folguedos de Ciro Nogueira
e Antônio Rueda em Mykonos, na Grécia, os deixaram ainda mais convictos de que
essa conversa de democracia para a brasileira não está com nada.
Aquilo que o bolsonarismo não conseguiu, tramando
contra a posse de Lula e depois depredando as respectivas sedes dos Três
Poderes, busca obter agora ao tentar impedir o STF de julgar e o Parlamento de
legislar. Por intermédio do sequestro do Congresso, miram também a paralisação
do Executivo. E tudo porque um fanfarrão — que roncava valentias contra
doentes, desvalidos e sufocados pela Covid-19 — amarela diante da possibilidade
de enfrentar uma prisão confortável, que em nada lembrará as masmorras em favor
das quais falou. O "imbrochável" brocha; o "imorrível"
desfalece; o incomível, bem..., "incomível" permanece em razão
daquilo que Cecília Meireles chamou "a força surda dos vermes".
Como se vê, a tirania falava em "autêntica
ordem democrática", em "liberdade" e em "respeito à
dignidade da pessoa humana". E, assim, o regime prendeu, torturou, matou,
cassou e exilou. É desse pântano fétido que sai essa gente que agora usurpa um
dos Poderes da República.
(Reinaldo Azevedo)
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